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E O AMOR SAIU PELA JANELA
Maria entrou pisando duro, com cara de nenhum amigo, soltando fogo
pelas ventas. Zé pressentiu que ia sobrar para ele. E sobrou. Sem novidade.
-- O que aconteceu, Maria?
-- O de sempre. Zé, eu estou cheia de você. Cheia. Esgotada. Você só
me faz passar vergonha nessa vida desgraçada que levo.
-- O que eu lhe fiz dessa vez?
-- Quando souberam, no salão, que fiz aniversário ontem, todo mundo
quis saber se você tinha me levado para jantar fora, que presente você me deu,
essas coisas. Menti. Disse às moças que ganhei uma bolsa lindíssima e que
deixamos o jantar para sábado, que ontem estava indisposta etc. Não sei se
colou. Nós, mulheres, temos o tal do sexto sentido.
-- Pelo amor de Deus, Maria, não seja injusta. Há anos, você não
quer que eu lhe compre presente algum. Você não cansa de repetir que eu não sei
fazer compras, erro sempre no tamanho, tenho gosto duvidoso e sei lá mais o
quê. Além disso, estamos numa situação complicada. O dinheiro da poupança está no
fim, eu não consigo emprego. O que você quer que eu faça? Anteontem, você ainda
me disse: “Não me traga nada, por favor. O mar não está pra peixe.” Lembra?
-- Francamente. Você é um obtuso. Leva tudo ao pé da letra. Mas quem
sofre as humilhações sou eu.
-- Maria...
-- Vá se catar.
(OS – Junho/ 2016)
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