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PRETINHO BÁSICO
(Por Orlando Silveira) Já
fui festeiro, dos que não perdia evento, sempre dos primeiros a chegar e dos
últimos a sair. Hoje, agradeço aos céus quando não me convidam para nada. As
festas, em geral, são insuportáveis. A começar pelos casamentos. Não pensem que
desgosto de gente. Ao contrário. Mas prefiro encontros informais, papos com
amigos, cerveja gelada, bermuda e camisetas surradas. Gosto mesmo é do conforto
que apenas os legítimos botecos nos propiciam. São raras as pessoas que vão às
festas para se divertir. Vão é para botar reparo nos outros e ter assunto para
os dias seguintes. Línguas de trapo. É o que são.
Minha
ojeriza a festas também tem motivação econômica. Elas custam muito caro – para
quem banca e também para quem vai. Ainda mais se o convidado for um sem terno
como eu. Usei tal vestimenta poucas vezes na vida. Não me arrependo. Quando me
convidam para comemorar bodas disso ou daquilo, sei que terei gastos
desnecessários pela frente. Aonde irei depois com o traje de festa? No boteco
da esquina é que não haverá de ser. Os amigos me virariam as costas.
Se
os nubentes forem gente de posse e a festa, chique, os gastos serão imensos.
Você gastará muito além de suas posses, estourará o cartão de crédito,
comprometerá as finanças por seis meses. No mínimo. Tudo isso para quê? Para
passar por mendigo. Ou você acha mesmo que sua mulher fará grande sucesso com o
pretinho básico tomado de empréstimo à prima, bem mais magra? Ou que a panela
de pressão era o sonho de consumo dos pombinhos?
Se
a festa for de pobre, seus gastos serão menores, evidentemente. Mas,
acautele-se. Não há milagre capaz de livrá-lo de torrar o dinheirinho da feira
de domingo com a aquisição forçada de um pedaço de gravata. Francamente! Se a
gravata ainda fosse do noivo, menos mal. Mas, não. Há sempre um tio ou primo
disposto a se livrar de seu pedaço de pano puído para que os noivos tenham uma
lua de mel feliz. Ponha todas as
despesas na ponta do lápis. Não se esqueça dos gastos de sua esposa com o chá
de panela. A conclusão será inevitável: você nunca pagou tão caro por uns
chopes quentes (isso quando ele não acaba no meio da festa) e salgadinhos
encharcados de óleo. E frios. Vale a pena? Não vale. (OS - 2012)
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