quinta-feira, 16 de junho de 2016

POLÍTICA/OPINIÃO: RICARDO NOBLAT

SÉRGIO MACHADO: DE OLHO NA PELE DOS FILHOS

TIRO DE RASPÃO EM TEMER

BLOG DO NOBLAT - 16/06/2016 - 06h11

(Por Ricardo Noblat) Direto ao ponto: o presidente interino Michel Temer foi vítima, sim, de um tiro de raspão disparado pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, em delação prestada à Lava-Jato em cinco de maio último e finalmente divulgada ontem.

A princípio, sobreviverá. Tiro de raspão não costuma matar. Tudo indica, no caso, que o tiro provocou apenas um ferimento leve na imagem já pouco robusta de Temer. Se não infeccionar, Temer seguirá apto a exercer suas funções. A conferir.

Segundo Machado, durante encontro na Base Aérea de Brasília em setembro de 2012, Temer lhe pediu R$ 1,5 milhão para a campanha de Gabriel Chalita, então candidato do PMDB à prefeitura de São Paulo. O dinheiro foi dado pela construtora Queiroz Galvão.

Ainda segundo Machado, “o contexto da conversa” entre os dois deixou claro que Temer queria que ele pedisse “recursos ilícitos a empresas que tinham contratos com a Transpetro na forma de doação oficial para a campanha de Chalita”.

Em nota oficial de apenas sete linhas, o governo taxou de “absolutamente inverídica a versão de que Temer teria solicitado recursos ilícitos” a Machado, “pessoa com que mantinha relacionamento apenas formal e sem nenhuma proximidade.”

A nota não nega que Temer tenha se reunido com Machado na Base Aérea ou em qualquer outro lugar. Também não nega que ele tenha pedido dinheiro para a campanha de Chalita. Nega que ele tenha solicitado “recursos ilícitos”, o que é diferente.

Nem mesmo os políticos mais escrachados – e Temer não é um deles – pedem “recursos ilícitos” a quem quer que seja.  Pedem recursos, simplesmente. E na maioria das vezes não querem nem saber se a origem do dinheiro será lícita ou ilícita.

Na declaração de despesas da campanha de Chalita encaminhada à Justiça Eleitoral, consta a doação de R$ 1,5 milhão feita pela Queiroz Galvão por meio do Diretório Nacional do PMDB, partido de Temer e à época presidido por ele.

Foi uma doação, portanto, legal, mas não isenta de suspeita. Caso se confirme que Temer reuniu-se com Machado na Base Aérea de Brasília – e há registros de quem entra ali, quando, como e em que dia -, ficará mal para ele. Muito mal.

Com efeito, o que levaria um político, presidente de partido, vice-presidente da República, a pedir dinheiro ao presidente de uma empresa estatal para financiar a campanha de um candidato? Empresa estatal não pode doar dinheiro para uma coisa dessas.

O dinheiro sairia do bolso do próprio Machado? Improvável. O mais provável: o político imaginaria que Machado ou alguém como ele fosse capaz de se valer da importância do cargo que ocupava para obter recursos, pouco importava onde e como.

A ser verdade o que disse Machado aos procuradores da Lava-Jato, Temer pode não ter cometido um crime. Mas teria faltado com a ética. Não ficaria difícil enxergar no episódio tráfico de influência e abuso de poder da parte de Temer e de Machado.

Nem tudo o que um delator diz pode ser tido como verdade até ser comprovado pelo Ministério Público e aceito pela Justiça. Mas o delator que mente perde os benefícios que negociou em troca da delação, por falsa. Machado se arriscaria a tanto?

Machado não está empenhado em salvar somente a própria pele como a maioria dos delatores da Lava-Jato. Ele tem a pele de três filhos para salvar. Os três também delataram por ter sido cúmplices do que o pai fez, e reconhece que fez.


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