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CARONA SOLIDÁRIA? TÔ FORA
Nas
grandes metrópoles – e nas cidades de médio porte também -, o trânsito é o que
se sabe: um caos. Dar jeito numa encrenca dessas exige investimentos vultosos,
coragem política para tomar medidas impopulares (como rodízio e cobrança de
pedágio urbano, por exemplo) e tudo mais que todo mundo sabe, inclusive nós, os
leigos. Mas não faltam “especialistas” que pretendem resolver problema tão
complexo com soluções simples. São os que fazem parte da tribo dos
politicamente corretos. Seu discurso é bonitinho, mas inútil.
Há
dias ouvi no rádio, uma “especialista” defendendo (de novo!) a carona
solidária. Segundo ela, a moda não pega por aqui por razões “culturais”. De vez
em quando, a cantilena ressurge, com a força que caracteriza as inutilidades.
Mesmo que quisesse, teria muitas dificuldades para oferecer transporte aos meus
queridos vizinhos. E por várias razões:
PRIMEIRA RAZÃO – Meu automóvel está longe de
atrair atenções, de ser um objeto de desejo de quem quer que seja. Melhor
dizendo: atenções o calhambeque atrai – e muitas -, mas, infelizmente, pelos
piores motivos. É o mais chinfrim do condomínio. Não raro, só pega no tranco, quando
pega. O sistema de freios não inspira muita confiança; os pneus, idem.
SEGUNDA RAZÃO – Não
sou mais um ás no volante. Fui bom. Hoje, meus reflexos não acompanham os
fatos. A visão e a audição também. Sabem como é? A turma do prédio fica de
olho, comenta, ri pelas costas. Para manobrar na garagem, não dispenso o
auxílio dos familiares. O sensor de ré não me serve para quase nada. Quando ouço
o apito, a batida já foi dada. É uma lástima que nossos arquitetos e
engenheiros não sejam adeptos do vão livre. Para que tantos pilares?
TERCEIRA RAZÃO –
Como vou saber para onde (e a que horas) vão meus queridos vizinhos, se a
maioria não me diz ao menos “bom dia”? Estive a ponto de desenvolver profundo
complexo de rejeição por conta disso. A família me tranquilizou: “Bom dia”,
“com licença” e “obrigado”, segundo me dizem, são termos fora de moda. Ora, se
é assim, como, então, vou chegar para uma vizinha que não me olha na cara e
perguntar: “Para aonde vamos”? Corro o risco de levar uma sova do marido. Já não
tenho braços para revidar. Nem pernas para fugir.
Então,
ficamos assim: cada qual que vá para o trabalho com suas próprias rodas. E os
muito incomodados com o trânsito que se mudem. Para a Índia. (OS - 2014)
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