A HISTÓRIA DO BRASIL DO PT
(Por Luiz Felipe Pondé) A
"batalha do impeachment" é a ponta do iceberg de um problema maior,
problema este que transcende em muito o cenário mais imediato da crise política
brasileira e que independe do destino do impeachment e de sua personagem
tragicômica Dilma.
Mesmo
após o teatro do impeachment, a história do Brasil narrada pelo PT continuará a
ser escrita e ensinada em sala de aula. Seus filhos e netos continuarão a ser
educados por professores que ensinarão esta história. Esta história foi criada
pelo PT e pelos grupos que orbitaram ao redor do processo que criou o PT ao
longo e após a ditadura. Este processo continuará a existir. A
"inteligência" brasileira é escrava da esquerda e nada disso vai
mudar em breve. Quem ousar nesse mundo da "inteligência" romper com a
esquerda, perde "networking".
Ao
afirmar que a "história não perdoa as violências contra a
democracia", José Eduardo Cardozo tem razão num sentido muito preciso. O
sentido verdadeiro da fala dos petistas sobre a história não perdoar os golpes
contra a democracia é que quem escreve os livros de história no Brasil, e quem
ensina História em sala de aula, e quem discorre sobre política e sociedade em
sala de aula, contará a história que o PT está escrevendo. Se você não acredita
no que digo é porque você é mal informado.
O
PT e associados são os únicos agentes na construção de uma cultura sobre o
Brasil. Só a esquerda tem uma "teoria do Brasil" e uma
historiografia.
Esta
construção passa por uma sólida rede de pesquisadores (as vezes, mesmo
financiada por grandes bancos nacionais), professores universitários,
professores e coordenadores de escolas, psicanalistas, funcionários públicos
qualificados, agentes culturais, artistas, jornalistas, cineastas, produtores
de audiovisual, diretores e atores de teatro, sindicatos, padres, afora, claro,
os jovens que no futuro exercerão essas profissões. O domínio cultural absoluto
da esquerda no Brasil deverá durar, no mínimo, mais 50 anos.
Erra
quem pensa que o PT desaparecerá. O do Lula, provavelmente, sim, mas o PT como
"agenda socialista do Brasil" só cresce. O materialismo dialético
marxista, mesmo que aguado e vagabundo, com pitadas de Adorno, Foucault e
Bourdieu, continuará formando aqueles que produzem educação, arte e cultura no
país. Basta ver a adesão da camada "letrada" do país ao combate ao
impeachment ao longo dos últimos meses.
Ao
lado dessa articulada rede de agentes produtores de pensamento e ação política
organizada, que caracteriza a esquerda brasileira, inexiste praticamente opção
"liberal" (não vou entrar muito no mérito do conceito aqui, nem usar
termos malditos como "direita" que deixam a esquerda com água na
boca).
Nos
últimos meses apareceram movimentos como o Vem Pra Rua e o MBL que parecem mais
próximos de uma opção liberal, a favor de um Brasil menos estatal e vitimista.
Ser liberal significa crer mais no mercado (sem ter que achá-lo um
"deus") e menos em agentes públicos. Significa investir mais na
autonomia econômica do sujeito e menos na dependência dele para com
paternalismos estatais. Iniciativas como fóruns da liberdade, todas muitos
importantes para quem acha o socialismo um atraso, são essencialmente
incipientes. E a elite econômica brasileira é mesquinha quando se trata de
financiar o trabalho das ideias. Pensa como "merceeiro", como diria
Marx. Quer que a esquerda acabe por um passe de mágica.
O
pensamento liberal no Brasil não tem raiz na camada intelectual, artística ou
acadêmica. E sem essa raiz, ele será uma coisa de domingo a tarde.
A
única saída é se as forças econômicas produtivas que acreditam na opção liberal
financiarem jovens dispostos a produzir uma teoria e uma historiografia do
Brasil que rompa com a matriz marxista, absolutamente hegemônica entre nós.
Institutos liberais devem pagar jovens para que eles dediquem suas vidas a
pensar o país. Sem isso, nada feito.
Sem
essa ação, não importa quantas Dilmas destruírem o Brasil, pois elas serão
produzidas em série. A nova Dilma está sentada ao lado da sua filha na
escolinha.
Filósofo,
escritor e ensaísta, pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel
Aviv, discute temas como comportamento, religião e ciência (Folha
de S. Paulo – 18/04/2016)
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