FOTOGRAFIA: CLÓVIS CAMPÊLO 2000 |
DELÍRIO AZUL
(Por Clóvis Campêlo) Entre
os rios e o mar, Recife é um delírio azul. Dos sonhos dos homens, fez-se a
cidade que sempre encantou poetas e imperadores. Dos sonhos dos homens e dos
aluviões, matéria orgânica semeando o futuro sobre as águas.
Entre
risos e bares, Recife é um transe etílico. Do porre dos poetas, fez-se a
literatura nem sempre bem comportada que alicerçou a sua fama de reduto de
bardos e bêbados. Em bandos ou solitários, a margear as águas nem sempre
límpidas do mangue.
Sobre
rios, pontes e overdrives, Recife é sinuosidade, é extravagância, superação de
limites. Na sua concepção, em nada, porém, difere de todas as outras cidades do
mundo. É equívoco, prisão, neuroses, contenção. Recria-se sempre sob a ótica do
pragmatismo capitalista, a grana erguendo e destruindo coisas belas, sequelas.
Entre
o passado e o futuro, Recife é o presente nem sempre bem compreendido. Onde
estarão os botos do Capibaribe, espantados pelo vinhoto das suas usinas de
açúcar e pelo murmúrio incessante das suas máquinas modernas? Recife perde-se
na sua própria contemporaneidade. Que cidade é essa? Deitada para sempre no
berço esplêndido da planície aluvional, a esperar com paciência o beijo
libertador do cavaleiro do futuro.
Quantas
vezes nos renderemos à luz do luar secular? Quantas paredes se ergueram entre
ela e o seu solo úmido? Quantos séculos ainda esperaremos pelo que nunca
existiu, pela essência para sempre perdida do passado, dos casarões
malassombrados, do vento morno do verão que nunca nos açoitou as faces?
A
gente precisa ver o luar! (NOVEMBRO/2011)
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