A ÉTICA DO
CRUZ-CREDO
CENA I
-- Fui falar com o vereador sobre aquele troço: o cargo de fiscal na
Prefeitura.
-- E aí?
-- Aí nada. É um filho da puta como os outros. Só pensa nele mesmo.
Veio com uma conversa de que para ser fiscal precisa passar no concurso.
Lorota. Quando eles querem dão um jeito. Ou não dão?
-- Claro que dão.
-- Fui claro. Falei para ele: Eu não vou prejudicar ninguém, fique
sossegado. Quero apenas ganhar uns trocos, sacou? Quero fazer que nem um fiscal
conhecido meu. Ele leva R$ 10 do açougueiro; R$ 15 da lanchonete; R$ 25 do
mercadinho... Ele tem uma tabela. Da padaria, ele leva R$ 50... Só para fazer vistas
grossas.
-- Por dia?
-- Enlouqueceu? Por semana, por semana. Se fosse tudo aquilo por
dia, seria corrupção. Com essas coisas, eu não lido.
-- Faz muito bem. Isso é coisa pra bandido.
CENA II
-- Aí, já é demais, mano velho. Os caras perderam a noção, não valem
nada, não valem o que comem. São uns lixos. Roubar dinheiro da Saúde?
-- É verdade, cara, é verdade. Que desviem dinheiro de outras áreas.
Dos Transportes, sei lá. Da Pesca, dos Esportes, da Cultura. Mas, da Saúde? Da
Saúde não dá, não é, não?
-- É isso aí.
CENA III
-- Sucupira, esses salgadinhos são todos de ontem?
-- São. Sobraram. Minha mulher fritou mais do que devia, pra variar.
Não vai aprender nunca.
-- Que prejuízo, mano. Agora, vai tudo para o lixo?
-- Enlouqueceu? Vou fritar de novo. Eles ficam parecendo novinho em
folha.
-- Você frita de novo o que sobra?
-- Claro. Mas só vendo pra quem não é freguês de todo dia, pra quem
está de passagem. Pra você, frito na hora. Pode confiar.
-- Está certo. Não dá pra confundir freguês com paraquedista. (OS - 2013)
Nenhum comentário:
Postar um comentário