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DOLORES, DOLORES
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Acordei hoje sem dores. O dia estava bonito, ensolarado. Uma beleza. Mas não
consegui segurar o choro.
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Uai, chorou por quê?
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Até elas, as dores, Dolores, me abandonaram.
JOÃO BOBO
Ele
ia e vinha, vinha e ia, ao sabor dos murros e pontapés que tomava. Sua alegria
era dar alegria a quem lhe batia. João Bobo. Bobo João.
João
Bobo cansou de apanhar. De ir e vir, vir e ir sem ver o mar. Bobo João cansou
da vida sem graça, cansou de apanhar.
Quando
o menino do vizinho chegou com o espeto na mão, para lhe furar os pés de
plástico, ele não lhe disse palavra, não reagiu, nada fez.
Murchou
em paz. Aliviado.
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ZÉ PAULO
Desde
sempre, lástima das lástimas, ele entornava todas, mais algumas, com direito a
“chorinho”. Sem descontinuar. O pai se foi, a mãe se foi, Zé Paulo ficou livre
para fazer o que mais gosta: beber. Entornou em dobro. Sem parar.
Herdou
casa própria, recebia aluguel. O irmão – ex-sócio na oficina – lhe dava mesada.
Zé Paulo ia em frente, contra o vento. Bebendo muito, comendo nada.
Final
de ano.
Zé
Paulo, solitário como sempre, sentou-se na porta de casa. Passou muitas horas
sem falar coisa com coisa. Chamaram seu irmão. O irmão chegou. E fez o que
deveria ser feito: colocou Zé Paulo numa clínica.
Zé
Paulo falando sandices, sandices sem parar.
Apesar
da uca, Zé Paulo sempre foi inteligente, gozador nato.
Dias
depois, o irmão quis saber da enfermeira se Zé Paulo estava melhor, se o juízo
(ou a falta dele) estava voltando. Por via das dúvidas, foi direto ao ponto:
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Zé Paulo: dois e dois são quanto?
Zé
Paulo não se fez de besta:
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Porra! Isso aqui é hospital ou escola?
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