sexta-feira, 31 de julho de 2015

NÃO FOI DESTA VEZ

Foto: www.suza.com.br
O apelido de Zeca – “Péssimas Novas” –, evidentemente, não surgiu do nada. O homem jamais, em tempo algum, foi molhar a goela no bar do Carneiro sem levar consigo notícias ruins. No dizer de muitos que o conheciam, é uma espécie de corvo em forma de gente.

Para alguns dos frequentadores, os mais generosos, ele é apenas um sujeito pessimista, adepto da Lei de Murphy, que tem certeza absoluta de que tudo que pode não dar certo dará errado. Uma simples gripe evoluirá para a pneumonia -- e a consequente internação do paciente. Daí, para a infecção generalizada e o óbito é um passo. Para outros colegas de copo, porém, ele é mais que pessimista: é um agourento, torce sempre para que o pior aconteça – e logo, se possível. O que faz com que muitos jamais se aproximem dele. Há, no entanto, os precavidos, que optam por lhe pagar bebidas, na esperança de que Zeca não lhes deseje - nunca - mal nenhum.

Pois bem. Naquela tarde, Zeca “Péssimas Novas” entrou no bar do Carneiro cheio de otimismo. Disse que havia encontrado Abelardo e que sua recuperação era mais que surpreendente, era fantástica. “Quem diria, após tantas cirurgias? Tenho certeza de que ele voltará a ser o que sempre foi: um homem saudável, vigoroso” – não se cansava de repetir, para espanto geral. Um espanto que, a bem da verdade, durou pouco, até Zeca dar continuidade à conversa:

-- Agora, quem não anda nada bem, é dona Jurema, mulher de Abelardo. Está pálida demais. Tenho pra mim que, neste Natal, ela não estará viva pra comer castanha.

(26/11/2013)

Nenhum comentário:

Postar um comentário