RIBANÇÃS DE ASAS
ENXUTAS
No céu, apenas ribançãs de asas enxutas, ao contrário do olhar
sertanejo cheio d’água vindo do suor e das lágrimas pela falta de águas outras.
Nada de nuvens, nada de chuvas. À beira das pedras de onde um dia foi rio, a
mulher chora. Como dar de beber aos cinco sertanejinhos, crianças ainda, com
fome e sede na casinha ali perto daquela lama, daquele ajuntamento de pedras? E
as promessas de tantos que por ali passaram à cata de votos e que por ali não
voltaram depois dos votos catados. Talvez daqui há quatro anos novas promessas
e novos discursos ecoem por ali. Resta chorar e ter fé. Fé que se renova a cada
frustração da não-chuva porque só a fé pode resistir a tanta dor, a tanto
sofrimento. Fé que se junta à esperança de ver o dia em que as ribançãs, de
asas molhadas, voltem pro sertão.
Xico Bizerra é compositor, poeta, cronista e produtor musical. Tem mais de 270 composições gravadas http://www.forroboxote.com.br/ |
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