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UNS PELO OUTRO
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Parei de beber e de fumar. Também não jogo mais no bicho. Do baralho quero
distância. Sou outro homem, um homem melhor. Nos finais de semana, pego a
Bíblia e saio por aí, com meus irmãos, pregando a palavra do Senhor. Não volto
para casa enquanto não arrebanhar pelo menos três novas ovelhas para nossa
igreja. É meu compromisso, minha missão.
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Que igreja você frequenta, Jonas?
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A do missionário Laurindo, aquele que tem programa no rádio e na tevê.
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Você está de brincadeira. Aquele cara é picareta. Todo mundo conhece ele na
Vila Invernada. Jonas, não venha com gozação pro meu lado.
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Não brinco com isso, fé é coisa séria. O missionário Laurindo é meu guia, faço
tudo o que ele manda, cegamente, sem questionar.
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Esse cara já foi acusado de tudo: tráfico de drogas, receptação, rufianismo, eu
sei lá mais o quê.
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E ele não nega, não. Foi tudo isso e muito mais. Mas, tocado pelo sopro divino,
mudou de vida.
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Vou fazer de conta que acredito. Quanto você paga ao “missionário”?
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Não vou falar. Só lhe digo uma coisa: trabalho dobrado para ganhar mais e pagar
mais. E faço isso com alegria imensa. O dinheiro não é para ele, é para a obra.
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Carrões de luxo, helicóptero, Jonas, fazendas e tudo mais fazem parte da “obra”?
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Claro. Você queria que ele – homem que só prega o bem – perdesse seu valioso
tempo dentro de condução?
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Problema seu. Só lhe digo uma coisa: você trocou alguns vícios por outro bem pior.
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Diga o quiser, só saio daqui rumo à igreja, Oséias. Com você a meu lado.
NA LATA
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Você sabe mesmo com quem está falando?
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Claro. Claro que eu sei.
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Então, me diga: com quem você está falando?
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Com uma besta.
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