quarta-feira, 15 de julho de 2015

QUASE HISTÓRIAS (LXIII)

INTERNET

UNS PELO OUTRO

-- Parei de beber e de fumar. Também não jogo mais no bicho. Do baralho quero distância. Sou outro homem, um homem melhor. Nos finais de semana, pego a Bíblia e saio por aí, com meus irmãos, pregando a palavra do Senhor. Não volto para casa enquanto não arrebanhar pelo menos três novas ovelhas para nossa igreja. É meu compromisso, minha missão.

-- Que igreja você frequenta, Jonas?

-- A do missionário Laurindo, aquele que tem programa no rádio e na tevê.

-- Você está de brincadeira. Aquele cara é picareta. Todo mundo conhece ele na Vila Invernada. Jonas, não venha com gozação pro meu lado.

-- Não brinco com isso, fé é coisa séria. O missionário Laurindo é meu guia, faço tudo o que ele manda, cegamente, sem questionar.

-- Esse cara já foi acusado de tudo: tráfico de drogas, receptação, rufianismo, eu sei lá mais o quê.

-- E ele não nega, não. Foi tudo isso e muito mais. Mas, tocado pelo sopro divino, mudou de vida.

-- Vou fazer de conta que acredito. Quanto você paga ao “missionário”?

-- Não vou falar. Só lhe digo uma coisa: trabalho dobrado para ganhar mais e pagar mais. E faço isso com alegria imensa. O dinheiro não é para ele, é para a obra.

-- Carrões de luxo, helicóptero, Jonas, fazendas e tudo mais fazem parte da “obra”?

-- Claro. Você queria que ele – homem que só prega o bem – perdesse seu valioso tempo dentro de condução?

-- Problema seu. Só lhe digo uma coisa: você trocou alguns vícios por outro bem pior.

-- Diga o quiser, só saio daqui rumo à igreja, Oséias. Com você a meu lado.


NA LATA

-- Você sabe mesmo com quem está falando?

-- Claro. Claro que eu sei.

-- Então, me diga: com quem você está falando?

-- Com uma besta.





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