NO ELEVADOR
OTÁVIO NUNES É JORNALISTA |
(Por Otávio Nunes) Pela
primeira vez, depois de alguns meses, os dois ficaram sozinhos no elevador. Não
sabiam o que falar ao outro. “Ela mudou de perfume”, pensou ele. “Ele anda
relapso, com a barba por fazer e a camisa malpassada”, pensou ela.
Envergonhados
e tímidos, não estavam preparados para um momento como aquele e lamentaram até
a falta de ascensorista no elevador da empresa e torciam para que outro
funcionário entrasse. Ainda faltavam mais de dez andares para chegar onde
trabalhavam, em departamentos diferentes. “Será que ela ainda me odeia?”, “Eu
acho que ele nunca vai me perdoar.”
Os
momentos ternos do passado voltaram à mente de cada um. E como a vida é
madrasta e cômica, lembraram-se de que tudo havia começado numa conversa no
mesmo elevador. E lá se iam dois meses do último encontro, do último beijo, da
última... Embora fosse difícil assimilar e assumir, eles ainda pensavam num
provável retorno. Mas dar o braço a torcer, jogar o orgulho pela janela,
reconhecer erros... “Não sei o que dizer”, pensou ela. Ele, também.
Sentiam
vontade de entabular uma conversa. Ensaiavam trejeitos para falar algo ao outro
e a voz não saía. Ele pigarreou e ajeitou a gravata torta. Ela passou a mão sobre
o cabelo, temendo estar despenteada. Ele coçou a testa e olhou de soslaio para
o teto do elevador. Os olhos dela voltaram-se para o chão, como se procurasse
algo que caiu.
De
repente, seus olhares se encontraram novamente, como da primeira vez, e os lábios
iam se mover para pronunciar algo. Não deu tempo. O elevador parou e abriu a
porta e ambos se dirigiram a seus departamentos.
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