SAMBAS
E FUTEBOL
WILSON BATISTA |
Segundo os estudiosos do
assunto, foi no século passado que a música popular brasileira desabrochou de
vez. De evolução em evolução, nos anos 50 criou consistência suficiente para se
consolidar e desaguar em um movimento como a bossa nova. Embora contestada por
alguns, que a acusam de americanizar definitivamente a MPB, a bossa nova mudou
para sempre os rumos da nossa música popular, dando-lhe vigor suficiente para
projetar-se pelo mundo a fora e o conquistar.
Esse meio tempo vivido pela
música brasileira entre a incipiência e a maturidade, serviu para o aparecimento
de compositores identificados com os novos assuntos e costumes da nossa
sociedade. O futebol, com certeza, foi, e continua sendo até hoje, um deles. E
o Clube de Regatas Flamengo, na condição de um dos maiores times de massa do
Brasil, teria uma posição de destaque no imaginário e na capacidade criativa
desses compositores.
Um desses compositores
chamava-se Wilson Batista. Carioca, nascido na cidade de Campos, no dia 3 de
julho de 1913, foi autor de mais de 700 músicas, muitas das quais falando do
seu amor e da relação com o clube rubro-negro carioca. Como tema para os seus
sambas rubro-negros, Wilson não deixava escapar até mesmo os momentos de
derrota e decepção.
Na música “E o juiz apitou”,
por exemplo, uma parceria feita entre ele e Antônio Almeida, narrando uma
derrota do Flamengo para o Botafogo. O próprio Antônio Almeida, em depoimento
publicado na revista nº 36 da coleção MPB Compositores, assim declara: “Wilson
era flamenguista doente. Fomos ver um Flamengo x Botafogo, em General
Severiano. O Mengo perdeu o jogo e ele saiu angustiado do estádio. Pegamos o
bonde para voltar pro Café Nice e Wilson criou um caso com o motoneiro, dizendo
que não pagaria a passagem, tão aborrecido que se encontrava com a derrota do
seu 'mais querido'. Eu pedi calma e ele reagiu assim: 'Eu tiro o domingo pra
descansar e vou ao futebol me aporrinhar'. Fizemos ali mesmo, de parceria o
samba. Wilson era assim'.
Um outro parceiro e grande
amigo de Wilson Batista, o compositor Jorge de Castro, nessa mesma revista,
afirmaria que Wilson nunca foi muito de compor. O seu negócio era o tema. “Eu
imaginava uma história e contava pra ele, que fazia a música e a letra”. Foi
assim, que juntos lançaram mais de 100 músicas, entre as quais o “Samba
rubro-negro”, cuja letra segue abaixo:
“Flamengo joga amanhã / eu
vou pra lá / vai haver mais um baile no Maracanã / O mais querido / tem Rubens,
Dequinha e Pavão / eu já rezei pra São Jorge / pro Mengo ser campeão. / Pode
chover, pode o sol me queimar / que eu vou pra ver / a charanga do Jaime tocar:
/ Flamengo, Flamengo, tua glória é lutar / Quando o Mengo perde / eu não quero
almoçar / eu não quero jantar”.
Só para terminar, o médio
Dequinha, citado na letra e que marcou época no clube carioca ao lado de Rubens
e Pavão, era potiguar e se destacou nos anos 50, jogando pelo América
pernambucano antes de ser contratado pelo Flamengo. Recife 2014
***
SAMBA RUBRO-NEGRO
Na interpretação de Carlinhos Vergueiro
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