O BAÚ
(Por Violante Pimentel) Ermelindo
Souto era um homem bom, amigo de todos, e de boa conversa. Era Vereador numa
cidade do interior do Rio Grande do Norte, e já planejava se candidatar a um
novo mandato nas próximas eleições. Era inteligente, eloquente, e tinha o dom
da oratória. Só tinha um defeito: Não sabia guardar segredo…
Com
a maior facilidade, ele passava pra frente qualquer história que alguém lhe
contasse, principalmente se lhe fosse pedido sigilo. Era o chamado bocão.
Quando lhe reclamavam da sua indiscrição, respondia em cima da bucha: “Quem
tiver seus segredos não me conte!…” Dizia abertamente que a sua língua coçava,
se alguém lhe contasse alguma coisa e ele guardasse somente para si. Não achava
nada demais passar para frente um segredo que o próprio dono não conseguira
guardar.
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Num
certo dia, um eleitor seu, que levava mais chifres do que pano de toureiro, encheu
a cara de cachaça e foi procurá-lo, para lhe confidenciar o drama que estava
vivendo em casa, diante da traição da esposa. Queria lhe pedir um conselho
sobre o caminho que deveria tomar. O homem foi logo dizendo:
-
Dr. Ermelindo, eu quero lhe contar um segredo, mas lhe peço que fique somente
entre nós dois. Tenho dez anos de casado com Maria, e descobri agora que estou
levando chifres. Peço ao senhor para não contar isso a ninguém. Quero que me dê
um conselho...
Ermelindo,
sentindo-se ferido com a recomendação, reagiu irritado:
-
Não precisava me pedir segredo!!! Minha boca é um túmulo…Mas se você é o dono
do segredo, quem tem de guardar esse segredo é você!!! Se você não é capaz de
guardá-lo, quanto mais eu!!! E quer saber de uma coisa?
Eu
não sou baú!…
E
a história se espalhou…
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