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GENTE COMENDO GENTE
(Por Violante Pimentel) O
escritório de advocacia de Dr. Antônio Medeiros, em João Pessoa, ficava em
frente a uma das principais praças da cidade. Certa manhã, o advogado precisou
ir logo cedo ao Fórum, e de lá foi resolver outras coisas ligadas ao seu
trabalho. Muito atarefado, esqueceu que Cícero, seu empregado do sítio, viria
encontrá-lo no escritório, para com ele viajar a Natal. O empregado era uma
espécie de “pau pra toda obra”, no sítio do patrão, e servia até de capataz.
Mas na capital, ele não conhecia nada. Estava ali apenas cumprindo a ordem do
advogado, para se encontrar com ele e acompanhá-lo nessa viagem.
O
empregado não tinha a chave do escritório, nem tinha dinheiro no bolso pra
nada. Nessa época, não existia telefone
celular e a comunicação entre as pessoas era mais difícil. Ao ver o tempo
passar sem que o advogado chegasse ao escritório, Cícero começou a se
preocupar, imaginando que alguma coisa ruim tivesse ocorrido com o patrão.
Dr.
Antônio Medeiros somente chegou ao escritório às 17 horas, e encontrou Cícero
na calçada, desesperado. Foi nessa hora que o advogado se lembrou do que havia
combinado com o empregado. Ele iria acompanhá-lo na viagem a Natal.
Ao
ver o patrão chegar calmamente, sem a mínima preocupação com ele, Cícero se lastimou, chorando:
-
Eu estou aqui desde 8 horas da manhã esperando pelo senhor... Já vi gente indo
e gente voltando; já vi gente dando em gente e gente apanhando de gente; já vi gente querendo matar gente; já vi até gente comendo gente aí nessa
praça, só não via o senhor chegar.
Fiquei quase doido, com fome e com sede, sem ter um tostão no bolso, e sem
saber o que tinha acontecido.
Dr.
Antônio, muito brincalhão, divertiu-se com as palavras do empregado, que depois
serviram de piada.
Pra
compensar o desgosto do empregado, o advogado foi com ele ao Restaurante
“Elite”, onde jantaram fartamente, compensando o dia de fome que haviam
passado.
O
advogado havia se alimentado muito bem no café da manhã, e, por isso, não
sentiu falta do almoço nem do lanche.
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