quarta-feira, 22 de julho de 2015

COISAS DA VIDA


Violante Pimentel
Violante Pimentel é procuradora aposentada
  do Estado do Rio Grande do Norte

GENTE COMENDO GENTE

(Por Violante Pimentel) O escritório de advocacia de Dr. Antônio Medeiros, em João Pessoa, ficava em frente a uma das principais praças da cidade. Certa manhã, o advogado precisou ir logo cedo ao Fórum, e de lá foi resolver outras coisas ligadas ao seu trabalho. Muito atarefado, esqueceu que Cícero, seu empregado do sítio, viria encontrá-lo no escritório, para com ele viajar a Natal. O empregado era uma espécie de “pau pra toda obra”, no sítio do patrão, e servia até de capataz. Mas na capital, ele não conhecia nada. Estava ali apenas cumprindo a ordem do advogado, para se encontrar com ele e acompanhá-lo nessa viagem.

O empregado não tinha a chave do escritório, nem tinha dinheiro no bolso pra nada.  Nessa época, não existia telefone celular e a comunicação entre as pessoas era mais difícil. Ao ver o tempo passar sem que o advogado chegasse ao escritório, Cícero começou a se preocupar, imaginando que alguma coisa ruim tivesse ocorrido com o patrão.

Dr. Antônio Medeiros somente chegou ao escritório às 17 horas, e encontrou Cícero na calçada, desesperado. Foi nessa hora que o advogado se lembrou do que havia combinado com o empregado. Ele iria acompanhá-lo na viagem a Natal.
Ao ver o patrão chegar calmamente, sem a mínima preocupação com ele,  Cícero se lastimou, chorando:

- Eu estou aqui desde 8 horas da manhã esperando pelo senhor... Já vi gente indo e gente voltando; já vi gente dando em gente e gente apanhando de gente;  já vi gente querendo matar  gente; já vi até gente comendo gente aí nessa praça,  só não via o senhor chegar. Fiquei quase doido, com fome e com sede, sem ter um tostão no bolso, e sem saber o que tinha acontecido.

Dr. Antônio, muito brincalhão, divertiu-se com as palavras do empregado, que depois serviram de piada.

Pra compensar o desgosto do empregado, o advogado foi com ele ao Restaurante “Elite”, onde jantaram fartamente, compensando o dia de fome que haviam passado.

O advogado havia se alimentado muito bem no café da manhã, e, por isso, não sentiu falta do almoço nem do lanche.



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