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O
carro da emissora de tevê estacionou em frente ao Bar do Carneiro. Bem vestida
e bonita, a repórter entrou, foi até o balcão, falou qualquer coisa para o dono
do estabelecimento e correu os olhos pelo salão. Não teve dúvidas de quem iria entrevistar:
o Velho Marinheiro. Para surpresa geral, nosso Lobo do Mar aceitou de pronto o
convite, mas fez uma exigência: “Maquiagem eu não passo”.
Foi
até o banheiro lavou o rosto e penteou os cabelos ralos. Ao retornar, disse que
estava pronto, que ela podia começar a perguntar e que ele sabia que as
respostas tinham que ser curtas. Dispensava, portanto, qualquer ensaio.
--
O que o senhor acha da Parada Gay?
--
Uma indecência. Não gosto de exibicionismo, de baixaria em público, de alegria
forçada. Caricatura só em jornal.
--
Então, o senhor é contrário à união civil entre pessoas do mesmo sexo...
--
Quem lhe disse isso? Uma coisa não tem nada a ver com a outra. O que as pessoas
fazem entre quatro paredes, desde que seja consentido pelas partes, não me
interessa. Só não gosto de ousadia pro meu lado, ponho pra correr o atrevido.
Que cada qual seja feliz ao seu modo. A vida dos outros não me interessa.
Finda
a entrevista, o Velho Marinheiro quis saber quando a matéria iria ao ar. A
repórter titubeou:
--
Essa é uma decisão do editor. Já temos vários depoimentos favoráveis à união
civil entre pessoas do mesmo sexo...
--
A senhora, então, não queria saber o que penso, queria que lhe dissesse o que o
tal do editor quer ouvir.
-- É que precisamos dos dois lados.
-- Sou homem de um lado só. Se a senhora fosse homem lhe diria muitas e boas.
Deixa pra lá. Com licença. Tenho mais o que fazer. Vou tratar dos meus
passarinhos. (OS)
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