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O Velho Marinheiro, nosso Lobo do Mar, deu uma passada no bar do Carneiro. Queria saber como andava o amigo, sempre às voltas com suas catorze doenças e com o vício da mulher, que gastava o dinheiro miúdo da família numa máquina caça-níqueis escondida no fundo da espelunca. Ficou perplexo com o que viu e ouviu.
Romualdo Bastos – o cruzadista –, alçado à categoria de intelectual da
Vila Invernada, por conta de seus sólidos conhecimentos sobre os mais variados
e inusitados temas, improvisava uma palestra sobre seu “método de trabalho”. O
que mais impressionava nosso Lobo do Mar, no entanto, era a atenção que lhe
dedicavam os presentes, uma gente avessa à leitura. Tacos de bilhar repousavam
sobre o pano verde, ninguém ousava interromper o homem. O silêncio só era
quebrado pela tosse renitente de Toninho Moleza. Os malditos cigarros lhe
arruinaram os pulmões.
-- Meu método é simples: não acumulo dúvidas e me deixo – tal qual um
pai de santo – ser tomado pela curiosidade. Se o desafio é responder qual o
continente mais populoso do mundo – e a resposta eu já sei, claro! –, vou além:
quero saber quais são os países que dele fazem parte, qual a população de cada
um deles, quem os preside etc. Não paro por aí: vou pesquisar também como são
formados os outros continentes. Anoto, decoro, passo semanas fazendo isso.
Agora mesmo, estou memorizando os nomes de todos os países que compõem a ONU,
os nomes de seus respectivos presidentes e capitais, a área geográfica e a
população de cada um deles – gabava-se Romualdo Bastos.
Toninho Moleza acendeu mais um cigarro, tossiu a valer e disparou:
-- Doutor Romualdo: o senhor ainda vai entrar naquela academia e virar
imortal! Para orgulho de Vila Invernada!
Palmas se confundiam com gritos de “bravo”. Alguém ameaçou puxar o
refrão “Romualdo é coisa nossa”. O cruzadista sorvia aos golinhos o aperitivo,
afetando falsa modéstia. Até que o Velho Marinheiro interveio:
-- Qual é a mesmo sua graça?
-- Romualdo. Romualdo Bastos. A seu dispor.
-- Eu também sou curioso, seu Romualdo: que serventia pode ter uma
cultura inútil dessas?
OUTUBRO/2013
ótimo!
ResponderExcluirObrigado.
ExcluirOlá Orlando,
ResponderExcluirJá conheço seus escritos lá do JBF, e o que li aqui só reforça minha opinião, vale a pena ler cada texto que você posta. Meu abraço.
Dalinha, fique com meu carinho meu carinho e gratidão.
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