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CARA DE PALHAÇO, PINTA DE
PALHAÇO
Os
que me conhecem pessoalmente sabem que as duas características acima citadas –
cara e pinta – eu tenho. E não é de hoje. O que desde sempre serviu para fincar
nesse coração vadio uma dúvida: “Serei um palhaço”? Até onde a memória alcança,
foi uma tia quem plantou em mim a semente da desconfiança. Ela ria de tudo que
eu falava, fazia ou ameaçava fazer. Dizia a todos que eu era um garoto
divertido, brincalhão, verdadeiro palhaço. Não via na sua falação (seria
elogio?) maldade. Cheguei mesmo a cogitar abraçar a carreira. Desisti, por
razões que, agora, não vêm ao caso. Só lhes dou uma dica: quem nos garante que
o leão é, de fato, manso?
Nos
últimos tempos, tenho recebido de diversos amigos comentários exaltando meu
suposto bom humor. Falam isso, dizem aquilo e arrematam, nem sempre com a
expressão definitiva: “Você é um palhaço”. Não me ofendo, não. Muito pelo
contrário. Sou lhes grato. Só tamanha generosidade os leva a ver graça nas
desgraças sem graça que escrevo. Mas, tais afirmações (seriam elogios?) colocam
novas pulgas atrás de minhas orelhas. E a pergunta que não se cala volta à
tona, revigorada: “Serei eu um palhaço”? Hoje, bem mais do que ontem, entendo o
dilema de Hamlet.
Agora,
há os que, em não sendo tão amigos assim, insinuam que não sou palhaço
profissional coisa nenhuma (também nunca lhes disse que era), que não passo de
um sujeito atoleimado, um basbaque amador. Tudo por que – dizem alguns,
insinuam outros – rio de mim mesmo, das topadas e tombos que levo: “Você é tão
divertido. Você é, é, é… Você é um palhaço. Mas por que ri tanto de si
próprio”?
A
resposta é óbvia. O sujeito pode ter cara e pinta de palhaço, pode até ser
palhaço. O que não significa que seja tolo. Rio de meus tropeços, de meus
desacertos e medos – antes que os outros o façam de maneira estridente. Além
disso, ante os obstáculos, não importa o grau, a tristeza é a pior companhia.
Melhor chorar quando dizem que o seu mar (de quem diz) é de rosas ou que o céu
que os protege é de brigadeiro. Quem suporta um tédio desses? Nem palhaço
suporta. (2013)
Amigo eu poderia usar psicologia ,convocar Friedrich Nietzsche,mas vou pelo meu falar simples e direto.
ResponderExcluirQuem ri de si mesmo é forte.isso é antes uma virtude e da a vida um tom de leveza valioso.Parabéns Orlando Silveira!
Obrigado, Suely. É um baita prazer tê-la por aqui. Abração.
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