sexta-feira, 17 de julho de 2015

QUASE HISTÓRIAS (LXV)

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CARA DE PALHAÇO, PINTA DE PALHAÇO

Os que me conhecem pessoalmente sabem que as duas características acima citadas – cara e pinta – eu tenho. E não é de hoje. O que desde sempre serviu para fincar nesse coração vadio uma dúvida: “Serei um palhaço”? Até onde a memória alcança, foi uma tia quem plantou em mim a semente da desconfiança. Ela ria de tudo que eu falava, fazia ou ameaçava fazer. Dizia a todos que eu era um garoto divertido, brincalhão, verdadeiro palhaço. Não via na sua falação (seria elogio?) maldade. Cheguei mesmo a cogitar abraçar a carreira. Desisti, por razões que, agora, não vêm ao caso. Só lhes dou uma dica: quem nos garante que o leão é, de fato, manso?

Nos últimos tempos, tenho recebido de diversos amigos comentários exaltando meu suposto bom humor. Falam isso, dizem aquilo e arrematam, nem sempre com a expressão definitiva: “Você é um palhaço”. Não me ofendo, não. Muito pelo contrário. Sou lhes grato. Só tamanha generosidade os leva a ver graça nas desgraças sem graça que escrevo. Mas, tais afirmações (seriam elogios?) colocam novas pulgas atrás de minhas orelhas. E a pergunta que não se cala volta à tona, revigorada: “Serei eu um palhaço”? Hoje, bem mais do que ontem, entendo o dilema de Hamlet.

Agora, há os que, em não sendo tão amigos assim, insinuam que não sou palhaço profissional coisa nenhuma (também nunca lhes disse que era), que não passo de um sujeito atoleimado, um basbaque amador. Tudo por que – dizem alguns, insinuam outros – rio de mim mesmo, das topadas e tombos que levo: “Você é tão divertido. Você é, é, é… Você é um palhaço. Mas por que ri tanto de si próprio”?

A resposta é óbvia. O sujeito pode ter cara e pinta de palhaço, pode até ser palhaço. O que não significa que seja tolo. Rio de meus tropeços, de meus desacertos e medos – antes que os outros o façam de maneira estridente. Além disso, ante os obstáculos, não importa o grau, a tristeza é a pior companhia. Melhor chorar quando dizem que o seu mar (de quem diz) é de rosas ou que o céu que os protege é de brigadeiro. Quem suporta um tédio desses? Nem palhaço suporta. (2013)



2 comentários:

  1. Amigo eu poderia usar psicologia ,convocar Friedrich Nietzsche,mas vou pelo meu falar simples e direto.
    Quem ri de si mesmo é forte.isso é antes uma virtude e da a vida um tom de leveza valioso.Parabéns Orlando Silveira!

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    1. Obrigado, Suely. É um baita prazer tê-la por aqui. Abração.

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