sábado, 4 de julho de 2015

QUASE HISTÓRIAS (LVI)

A "CASA-GRANDE"
www.suacasadecampo.com.br

O CASEIRO

Manoel trabalha demais, de domingo a domingo. Acorda muito cedo, dia ainda escuro. Semeia, cuida das galinhas, encaixota os ovos, ordenha a vaca solitária, rega a plantação, recolhe as frutas maduras e as verduras e legumes prontos para o consumo. Põe tudo na perua velha e parte para a cidade, a catorze quilômetros do sitio, onde vive com a mulher, mãe e três filhos pequenos (o quarto está a caminho). É preciso escoar a produção, ganhar um dinheirinho. Quando retorna, vai arrumar coisa pra fazer. Homem sem parada.

Manoel trabalha demais, de domingo a domingo. Não tem tempo para pensar em bobagens, talvez por isso seja um homem feliz – pelo menos é assim que ele se define. Não ganha salário, mas não paga aluguel. Tudo o que planta é dele, para revender na cidade. Em troca, toma conta do sítio, que andava meio abandonado. Homem sem parada. Por iniciativa própria, limpa a piscina, apara a grama, não deixa que o mato enfeie a “casa-grande”, seu sonho de consumo.

Manoel trabalha demais, de domingo a domingo, pensa pouco, mas sonha. Sonha em reunir a família inteira (doze irmãos, todos vivos e casados) para comemorar o Natal na “casa- grande”, com direito a dormir com a mulher na suíte e a tomar banho de piscina com suas crianças e convidados. Temia que o “patrão” se recusasse a alugar a "casa-grande" para ele. Para sua surpresa, o “patrão” topou – e fez mais: reduziu à metade o preço que costuma cobrar dos que se aventuram a passar uns dias naquele fim de mundo.

Manoel é puro contentamento, promete trabalhar dobrado. Planeja ampliar a horta, o pomar, o galinheiro. Afinal, sonho realizado tem custo. Outra vaquinha? Só depois do Natal, se sobrar dinheiro.


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