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O DESEJO
Certa vez, Antônio Padilha, antigo prefeito de uma cidade do
interior do Rio Grande do Norte, recebeu, em seu gabinete, a visita de uma
moça, trazendo na mão um bilhete. Ao entrar na sala, ela foi logo dizendo que o
bilhete era do seu irmão, sargento Ranulfo, e que iria aguardar a resposta.
No bilhete, o homem pedia ao prefeito que lhe conseguisse um
calango, para que sua esposa, grávida, saciasse um desejo. Desde o dia
anterior, a mulher desejava comer um guisado de calango.
A sogra do sargento, depois de muita insistência da filha, prometera
preparar o estranho prato, apesar de nunca ter visto guisado de calango.
Afinal, com desejo de mulher buchuda, não se brinca! Estava tudo combinado para
satisfazer à gestante, mas faltava o principal, que era o calango. O marido
temia que ela perdesse a criança, caso seu desejo não fosse atendido.
O prefeito achou o pedido muito estranho, mas como partia de uma
mulher buchuda, tudo era de se esperar. Prometeu à “estafeta”, que iria fazer o
possível pra atender ao pedido do seu fiel eleitor.
Em seguida, mandou um empregado da prefeitura à fazenda de um
correligionário, pra ver se o amigo lhe conseguia um calango. Isso lhe
aumentaria o prestígio, e seria mais um feito que contaria nos seus discursos,
na próxima campanha política, quando fosse tentar a reeleição.
Horas depois, o empregado retornou, trazendo um calango morto, já
seco, dentro de uma caixa. A moça continuava aguardando, mas quando viu a
situação do calango, recusou-se a recebê-lo, e disse para o prefeito:
- Meu irmão pediu um calango vivo! A sogra dele é quem vai matar e
preparar o guisado. Sabe Deus, desde quando este calango aí está morto!!! Isso
é coisa séria, prefeito! É desejo de mulher buchuda!!!
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E o prefeito, tentando conter o riso, respondeu:
- Não tem problema. Vou providenciar um calango vivo, vindo
diretamente do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro. Mas, daqui que chegue, o
menino já nasceu…
A moça, contrariada, bateu a porta do gabinete do prefeito e saiu
gritando:
- Prefeito sem futuro! Não serve nem pra arranjar um calango, pra
matar o desejo de uma mulher buchuda!
Por causa desse calango, o prefeito perdeu vários eleitores…
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