OTÁVIO NUNES É JORNALISTA
FITA AMARELA
(Historinha baseada na
música Tie a yellow ribbon round the ole oak tree, de Tony Orlando, que fez sucesso no Brasil
nos anos 70, gravada pelo grupo norte-americano Dawn)
Josmarino, conhecido como Bigode, entrou em
sua cela e olhou o calendário. Faltavam oito dias para deixar a prisão. Foram
longos quatro anos por causa de uma tentativa de assalto. Pegou caneta e
caderno e começou a escrever uma carta para Analísia, sua namorada na época em
que fora preso. Nos dois primeiros anos, recebeu visitas dela. Depois, não
mais. Muitas missivas enviara, mas apenas duas foram respondidas, de maneira
formal, sem emoção. Pareciam escritas apenas por obrigação. “Será que ela ainda
me quer? Casou? Tem outro?”, questionava Bigode enquanto escrevia as
maltraçadas linhas com sua letra disforme.
Na
pequena carta, a menor que ele havia escrito até então, informava apenas a data
em que iria deixar a prisão e a seguinte mensagem: “Se você ainda me ama, ainda
me aceita de volta, amarre uma fita amarela na árvore em frente a sua casa.
Passarei aí de ônibus. Se não enxergar nenhuma fita amarela na velha paineira,
não descerei. Seguirei em frente para cuidar de minha vida.”
No
dia anterior à sua saída, foi ao barbeiro. Cortou o cabelo e aparou o bigode
preto. Na manhã seguinte, despediu-se dos amigos e também dos que não eram.
Dentro
do ônibus, que o levaria à casa de Analísia, seu coração batia como pandeiro.
Durante os três anos, o bairro havia mudado muito, bem como o itinerário do
coletivo. Ele tomava o maior cuidado para ler as placas com os nomes das ruas.
Em certo momento chegou a perguntar ao motorista se realmente iriam passar na
rua que ele queria. “Daqui a pouco”, respondeu o homem.
Assim
que o ônibus entrou na rua de Analísia, os passageiros ficaram surpresos. Todas
as árvores tinham fita amarela amarrada ao tronco.
|
segunda-feira, 3 de agosto de 2015
FALA, OTÁVIO
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário