sexta-feira, 14 de agosto de 2015

BRUNO NEGROMONTE

Histórias e estórias da MPB - Parte 13
Considera por Luiz Gonzaga a Rainha do Baião, Carmélia Alves pode ser considerada a primeira artista independente do Brasil
Recentemente trouxe aos amigos leitores algumas informações sobre dois ícones da música nordestina: Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga, este último considerado o Rei do Baião. Agora retomo as histórias e estórias do nosso cancioneiro trazendo Carmélia Alves, que na década áurea do Baião foi coroada pelo próprio Luiz Gonzaga como a Rainha do ritmo tão difundido por ele. Carmélia apesar de ter nascido em Bangu, na zona norte do Rio de Janeiro, seus pais eram nordestinos. De pai cearense e mãe baiana, Carmélia deu início a sua atividade artística como caloura do programa de Ary Barroso cantando um samba do repertório da pequena notável Carmen Miranda. A canção era Doce Veneno, do compositor Roberto Ribeiro. Resultado: conseguiu a nota máxima e foi participar do programa “Escada de Jacó”, uma espécie de ascensão profissional dos calouros para o status de profissional. Mas foi só através do programa “Picolino” do saudoso Barbosa Júnior que a artista passou a ser considerada profissional. Isso ocorreu após uma apresentação da artista ainda como caloura onde ao final do seu número foi aclamada pelo público presente e foi obrigada a bisar o número apresentado onde o apresentador participou. Isso a credenciou a favorita da plateia naquela noite, e ao final das apresentações o nome de Carmélia não constava entre as classificadas. O público veio abaixo e começaram as reivindicações. Sob gritos e vaias, Barbosa Júnior justificou a não presença da caloura entre as classificadas: "Carmélia Alves não é caloura, ela já é profissional. E tem mais: a partir de hoje ela passa a ser minha contratada". Começava aí a carreira profissional da intérprete carioca.
Quem proporcionou a primeira gravação fonográfica da artista foi o não menos notável Benedito Lacerda, músico de primeira grandeza e que oportunizou o registro de "Quem dorme no ponto é chover", de autoria de Assis Valente. No entanto a gravação custou ao bolso da artista 400 mil réis para a gravação, pois o dinheiro era para o pagamento da matriz da RCA Victor. Sem este valor a cantora desistiu da gravação, mas ao voltar para casa a sua mãe disse que ela não iria deixar de gravar e junto aos familiares conseguiu levantar tal quantia. Após essa gravação  artista passou sete anos sem fazer registros fonográficos. Outro importante nome presente na biografia da artista foi o músico e compositor Hervê Cordovil. Autor de clássicos do cancioneiro brasileiro, Hervê foi o responsável por introduzir a cantora no universo do baião ao apresentar a canção "Sabiá na Gaiola", canção que acabou por se tornar um clássico do seu repertório e outras do mesmo gênero que acabaram sendo registradas pela artista. Tais gravações a fizeram cair na graça do público que de imediato aclamava-a como Rainha do Baião, posto este que foi oficializado no programa "No mundo baião", apresentado por Humberto Teixeira e pelo Rei do gênero, Luiz Gonzaga na rádio Mairink Veiga. Intermediado pelo apresentador César de Alencar, Carmélia foi convidada para apresentar-se no programa e, no meio da apresentação, foi coroada no palco da rádio carioca pelo próprio Gonzaga que ao colocar o chapéu de couro na cabeça da cantora disse: "Estou coroando você a Rainha do Baião com o símbolo do Nordeste. Daqui pra frente vamos defender o acervo nordestino, você como Rainha e eu como Rei."
Vale registar que a admiração da cantora por Carmen Miranda. Ainda como caloura, Carmélia sempre apresentava-se interpretando as canções do repertório da pequena notável. Seus caminhos não chegaram a cruzarem-se, no entanto Carmélia teve a oportunidade de substituir aquela que ela tinha por ídolo em um programa de rádio. Ao ir residir no EUA, o horário de Carmen ficou vago, e isso propiciou a contratação de Carmélia.
Para matar a saudade da voz dessa intérprete ímpar segue para audição a gravação original de "Sabiá na gaiola", registro este de 1950:

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