quarta-feira, 5 de agosto de 2015

COISAS DA VIDA

INTERNET

O AFOBADO

(Por Violante Pimentel) Manoel do Gato era caminhoneiro e morava em Vazante, no interior da Paraíba. Aos sábados, logo ao amanhecer, costumava viajar para a feira de Itaporanga, cidade vizinha, levando produtos para comercialização, como galinhas, perus e porcos.  Também transportava passageiros, cobrando um preço irrisório pela passagem. De graça não transportava ninguém. Era um homem sério, e não admitia bêbados nem algazarra no caminhão.Era alto e forte, e sabia manter a ordem. Era um tipo afobado e tinha o apelido de "pavio curto".

Os feirantes já tinham como certo o retorno no mesmo caminhão, após a feira. O caminhão ficava estacionado ao lado da Igreja.

Certa vez, Manoel do Gato já estava se preparando para voltar da feira, com os costumeiros passageiros acomodados nos bancos em cima do caminhão, quando apareceram duas mulheres desconhecidas, querendo viajar para um lugarejo que ficava antes do final da linha, que era Vazante. Ele, então, disse às mulheres que só havia lugar na boleia, e era o dobro do preço. As duas aceitaram e a viagem prosseguiu. Quando o caminhão chegou ao tal lugarejo, antes das duas desconhecidas descerem, uma delas disse para o caminhoneiro que ambas estavam sem dinheiro e que da próxima vez pagariam a dívida. Manoel do Gato, indignado com a picaretagem das duas mulheres, impediu que elas descessem do caminhão, fez "um cavalo de pau", e retornou para Itaporanga, deixando as duas no mesmo ponto onde haviam pegado o caminhão.

Violante Pimentel

Violante Pimentel é procuradora aposentada
  do Estado do Rio Grande do Norte

Outra vez, após vender seus produtos na feira de Itaporanga, Manoel do Gato foi fazer suas próprias compras, como de costume. Ao se aproximar de uma banca que vendia carne de sol, linguiça e toucinho, notou que um forasteiro, embriagado, examinava o toucinho, apertando-o com os dedos, que ficaram visivelmente sujos de sal e banha. Cheio de deboche, e de modo imprevisível, o desconhecido limpou os dedos sujos na camisa de Manoel do Gato, comentando que o toucinho era muito bom.

Então, Manoel do Gato saiu do sério! Rapidamente, esfregou com força suas enormes mãos na manta de toucinho e avançou para o forasteiro. Lambuzou o desconhecido com o sal e a banha, dos pés à cabeça, centralizando sua fúria no rosto e no pescoço. Para completar, sacou de um punhal somente para amedrontar o sujeito, que ficou branco como uma vela e tremendo como vara verde.

O dono da banca e outros feirantes conseguiram acalmar Manoel do Gato, que guardou a arma branca e fez com que o forasteiro saísse dali aos empurrões.






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