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O AFOBADO
(Por Violante
Pimentel) Manoel do Gato era caminhoneiro e morava em
Vazante, no interior da Paraíba. Aos sábados, logo ao amanhecer, costumava
viajar para a feira de Itaporanga, cidade vizinha, levando produtos para
comercialização, como galinhas, perus e porcos.
Também transportava passageiros, cobrando um preço irrisório pela
passagem. De graça não transportava ninguém. Era um homem sério, e não admitia
bêbados nem algazarra no caminhão.Era alto e forte, e sabia manter a ordem. Era
um tipo afobado e tinha o apelido de "pavio curto".
Os feirantes já tinham como certo o retorno no mesmo caminhão, após
a feira. O caminhão ficava estacionado ao lado da Igreja.
Certa vez, Manoel do Gato já estava se preparando para voltar da
feira, com os costumeiros passageiros acomodados nos bancos em cima do
caminhão, quando apareceram duas mulheres desconhecidas, querendo viajar para
um lugarejo que ficava antes do final da linha, que era Vazante. Ele, então,
disse às mulheres que só havia lugar na boleia, e era o dobro do preço. As duas
aceitaram e a viagem prosseguiu. Quando o caminhão chegou ao tal lugarejo,
antes das duas desconhecidas descerem, uma delas disse para o caminhoneiro que
ambas estavam sem dinheiro e que da próxima vez pagariam a dívida. Manoel do
Gato, indignado com a picaretagem das duas mulheres, impediu que elas descessem
do caminhão, fez "um cavalo de pau", e retornou para Itaporanga,
deixando as duas no mesmo ponto onde haviam pegado o caminhão.
Violante Pimentel é procuradora aposentada do Estado do Rio Grande do Norte |
Outra vez, após vender seus produtos na feira de Itaporanga, Manoel
do Gato foi fazer suas próprias compras, como de costume. Ao se aproximar de
uma banca que vendia carne de sol, linguiça e toucinho, notou que um
forasteiro, embriagado, examinava o toucinho, apertando-o com os dedos, que
ficaram visivelmente sujos de sal e banha. Cheio de deboche, e de modo
imprevisível, o desconhecido limpou os dedos sujos na camisa de Manoel do Gato,
comentando que o toucinho era muito bom.
Então, Manoel do Gato saiu do sério! Rapidamente, esfregou com força
suas enormes mãos na manta de toucinho e avançou para o forasteiro. Lambuzou o
desconhecido com o sal e a banha, dos pés à cabeça, centralizando sua fúria no
rosto e no pescoço. Para completar, sacou de um punhal somente para amedrontar
o sujeito, que ficou branco como uma vela e tremendo como vara verde.
O dono da banca e outros feirantes conseguiram acalmar Manoel do
Gato, que guardou a arma branca e fez com que o forasteiro saísse dali aos
empurrões.
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