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AQUELA NÃO ERA
MINHA MÃE
Ainda menino, guri pobre e guloso do Brás, ficava sempre apreensivo
às vésperas de casamento de parentes ou conhecidos. Não via a hora, claro, de
comer salgados, doces e tudo mais que me fosse servido. Também gostava de
correr feito besta de um lado para outro do salão, com meus primos, até vomitar
na roupinha nova, comprada a prazo. No dia seguinte, o puxão de orelha era
certo.
Mas o que me deixava apreensivo não era o castigo físico, que, a bem
da verdade, pouco doía. Era a certeza de que mamãe iria à cabeleireira, logo
pela manhã do sábado (naquela época só se casava aos sábados). Que depois
voltaria com uns rolos imensos na cabeça coberta por um pano qualquer.
O pior viria à tarde, quase na hora da cerimônia. Quando ela entrava
em casa, com aquele capacete construído com frascos e mais frascos de laquê,
era sempre um baque para mim. Meu pai não se abalava. Às vezes, chegava a lhe
dizer: “Está bonita”. Acho que o pai mentia.
Aquela mulher de capacete não era minha mãe. Minha mãe era a que me
buscava de cabelos lambidos e vestido ordinário, na porta da escola. Esta eu
amava. Desta sinto muita saudades.
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