terça-feira, 4 de agosto de 2015

CLÓVIS CAMPÊLO

MICROFONE DO MERCADO DE SÃO JOSÉ

NOS EMBALOS DOS SÁBADOS RECIFENSES

Sábado sempre é dia de reencontrar a cidade e arruar pelo Recife, como dizia um dos muitos Mários que por aqui passaram e se encantaram.

Hoje, costumo fechar esses dias de reencontro no restaurante do seu Chang, chinês que há mais de quarenta anos alimenta boêmios e glutões, no Pina, na esquina da Av. Conselheiro Aguiar com a Rua Tomé Gibson, a antiga Rua do Aeroclube. Lá, a especialidade são os galetos, linguiças e asinhas de frango, preparados com um tempero chinês que dona Fa, a esposa do seu Chang, não revela para ninguém. É comum reencontrar por lá velhos amigos pinenses e curtir um sábado regado a algumas cervejas e os quitutes do seu Chang. Imperdível, mesmo agora que já retirei as cervejas do meu cardápio.

Outra opção e alternativa saudável para fechar esses dias especiais, é o restaurante Itapoã, na praia do Bairro Novo, em Olinda. Ali, de frente para o mar histórico da Marim dos Caetés, degusta-se desde deliciosos frutos do mar a um frango à passarinha que é a especialidade da casa. Depois, um passeio no Alto da Sé e seus monumentos históricos, na parte alta de Olinda, um lugar onde a beleza natural não se cansa de nos encantar. Quase que invariavelmente é dessa forma que recarrego as baterias para iniciar a nova semana em grande estilo.

Como toda cidade histórica, o Recife tem informação e cultura por todos os lados e nos exige sempre uma atitude atenta e minuciosa na captação dessas preciosidades plásticas e visuais. Não sei se isso é provocado por meu olhar de filho apaixonado por essa mãe nem sempre gentil, mas não me canso de fotografar essa cidade e seu povo, sua arquitetura e seus monumentos, repletos de história e de acontecimentos que alavancaram mudanças e evoluções.

CLÓVIS CAMPÊLO


Infelizmente hoje, alguns desses logradouros, que outrora foram importantes, perdem-se no descaso, estão quase que abandonados pelos poderes públicos e pela grana da iniciativa privada, que, como já disse o poeta, ergue e destrói coisas belas. Afinal, dentro de uma visão política e econômica que me permite questionar tais coisas, embora nela admita uma certa utopia inviável, faço questão de não entender tal abandono. Afinal, para que serve o dinheiro senão para manter viva a nossa memória histórica e fomentar mudanças que beneficiem a sociedade a que as instituições deveriam servir como um todo?

Movido pelo chamado progresso e por outros interesses do sistema que nem sempre passam por aí (a não ser quando querem nos enganar e nos usar como massa de manobra), a cidade se transforma de uma maneira às vezes cruel e assustadora.

E na sua crueldade pragmática, termina por abrigar um povo cada vez mais insensível a essas questões, cada vez mais embrutecido pela necessidade de sobrevivência e pela necessidade de satisfazer falsos parâmetros de realização pessoal.

Recife, agosto 2015

PS.: No sábado passado, após rápida passagem pelo box de Microfone, no Mercado de São José, fico sabendo através de Marcos, seu sobrinho, que no alto dos seus oitenta e poucos anos, afetado pelo Mal de Alzheimer, Microfone já não atina para mais nada e nem reconhece mais ninguém. Lastimável! Mas, é assim que a vida segue.


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