MICROFONE DO MERCADO DE SÃO JOSÉ |
NOS EMBALOS DOS
SÁBADOS RECIFENSES
Sábado sempre é dia de reencontrar a cidade e arruar pelo Recife,
como dizia um dos muitos Mários que por aqui passaram e se encantaram.
Hoje, costumo fechar esses dias de reencontro no restaurante do seu
Chang, chinês que há mais de quarenta anos alimenta boêmios e glutões, no Pina,
na esquina da Av. Conselheiro Aguiar com a Rua Tomé Gibson, a antiga Rua do
Aeroclube. Lá, a especialidade são os galetos, linguiças e asinhas de frango,
preparados com um tempero chinês que dona Fa, a esposa do seu Chang, não revela
para ninguém. É comum reencontrar por lá velhos amigos pinenses e curtir um
sábado regado a algumas cervejas e os quitutes do seu Chang. Imperdível, mesmo
agora que já retirei as cervejas do meu cardápio.
Outra opção e alternativa saudável para fechar esses dias especiais,
é o restaurante Itapoã, na praia do Bairro Novo, em Olinda. Ali, de frente para
o mar histórico da Marim dos Caetés, degusta-se desde deliciosos frutos do mar
a um frango à passarinha que é a especialidade da casa. Depois, um passeio no
Alto da Sé e seus monumentos históricos, na parte alta de Olinda, um lugar onde
a beleza natural não se cansa de nos encantar. Quase que invariavelmente é
dessa forma que recarrego as baterias para iniciar a nova semana em grande
estilo.
Como toda cidade histórica, o Recife tem informação e cultura por
todos os lados e nos exige sempre uma atitude atenta e minuciosa na captação
dessas preciosidades plásticas e visuais. Não sei se isso é provocado por meu
olhar de filho apaixonado por essa mãe nem sempre gentil, mas não me canso de
fotografar essa cidade e seu povo, sua arquitetura e seus monumentos, repletos
de história e de acontecimentos que alavancaram mudanças e evoluções.
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Infelizmente hoje, alguns desses logradouros, que outrora foram
importantes, perdem-se no descaso, estão quase que abandonados pelos poderes
públicos e pela grana da iniciativa privada, que, como já disse o poeta, ergue
e destrói coisas belas. Afinal, dentro de uma visão política e econômica que me
permite questionar tais coisas, embora nela admita uma certa utopia inviável,
faço questão de não entender tal abandono. Afinal, para que serve o dinheiro
senão para manter viva a nossa memória histórica e fomentar mudanças que
beneficiem a sociedade a que as instituições deveriam servir como um todo?
Movido pelo chamado progresso e por outros interesses do sistema que
nem sempre passam por aí (a não ser quando querem nos enganar e nos usar como
massa de manobra), a cidade se transforma de uma maneira às vezes cruel e
assustadora.
E na sua crueldade pragmática, termina por abrigar um povo cada vez
mais insensível a essas questões, cada vez mais embrutecido pela necessidade de
sobrevivência e pela necessidade de satisfazer falsos parâmetros de realização
pessoal.
Recife, agosto 2015
PS.: No sábado
passado, após rápida passagem pelo box de Microfone, no Mercado de São José,
fico sabendo através de Marcos, seu sobrinho, que no alto dos seus oitenta e
poucos anos, afetado pelo Mal de Alzheimer, Microfone já não atina para
mais nada e nem reconhece mais ninguém. Lastimável! Mas, é assim que a vida
segue.
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