www.casaruim.com |
MARIA VALDENIR
(Por Violante Pimentel) Uma
morena vistosa, jovem, alta e corpulenta, empregada doméstica da nossa casa, preparou-se
para ir ao dentista. Arrumou-se de tal forma que parecia uma baiana. Cheia de
colares e pulseiras coloridas, de metal, conforme a moda da época, a serviçal
estava devidamente produzida e até tinha ares de madame. Enquanto isso, minha mãe, Lia Pimentel, suja
de tisna da cabeça aos pés, tentava desentupir o bueiro do nosso fogão inglês,
a lenha, tarefa que ela gostava de fazer pessoalmente, como boa dona de casa
que era.
Nesse
ínterim, chega um caixeiro-viajante, tentando se passar por gringo, e querendo
falar com a dona da casa, para vender
utensílios domésticos. Minha mãe, que tinha um humor acurado, sentindo-se
incomodada por ter que ir tomar banho e se aprontar para receber o vendedor,
achou mais fácil continuar limpando o bueiro do fogão a lenha, e, por
brincadeira, disse ao vendedor que a madame, a dona da casa, era aquela
morena bonita, arrumada e perfumada, que estava pronta para ir ao dentista. De nada adiantou a
insistência da minha mãe. O “gringo” não
aceitou, de forma alguma, que aquela morena, toda pronta, toda cheia de balangandãs,
fosse a dona da casa.
Depois
de olhar demoradamente para a serviçal, o “gringo” a encarou e disse:
--
Você não ser a madame!!! Você não ser a
dona da casa!!!”
|
Em
seguida, o vendedor olhou com respeito para a minha mãe, suja de tisna da
cabeça aos pés, inclusive com os braços
e mãos cheios de cinzas, e não relutou em contestá-la.
O
homem não se convenceu de que aquela morena produzida, bonitona e perfumada,
cheia de balangandãs, fosse a dona da casa. Olhou para a minha saudosa mãe, Lia
Pimentel, e disse:
--
Você, sim! Você ser a dona da casa! A madame ser você!!!
Mamãe
se desculpou e pediu para que o vendedor voltasse outro dia. A serviçal seguiu
para o dentista, desapontada por não ter convencido o caixeiro-viajante de que
era a patroa...
Nenhum comentário:
Postar um comentário