quarta-feira, 19 de agosto de 2015

COISAS DA VIDA

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MARIA VALDENIR

(Por Violante Pimentel) Uma morena vistosa, jovem, alta e corpulenta, empregada doméstica da nossa casa, preparou-se para ir ao dentista. Arrumou-se de tal forma que parecia uma baiana. Cheia de colares e pulseiras coloridas, de metal, conforme a moda da época, a serviçal estava devidamente produzida e até tinha ares de madame.  Enquanto isso, minha mãe, Lia Pimentel, suja de tisna da cabeça aos pés, tentava desentupir o bueiro do nosso fogão inglês, a lenha, tarefa que ela gostava de fazer pessoalmente, como boa dona de casa que era.

Nesse ínterim, chega um caixeiro-viajante, tentando se passar por gringo, e querendo falar com a dona da casa,  para vender utensílios domésticos. Minha mãe, que tinha um humor acurado, sentindo-se incomodada por ter que ir tomar banho e se aprontar para receber o vendedor, achou mais fácil continuar limpando o bueiro do fogão a lenha, e, por brincadeira, disse ao vendedor que a madame, a dona da casa, era aquela morena  bonita,  arrumada e perfumada,  que estava pronta  para ir ao dentista. De nada adiantou a insistência da minha mãe.  O “gringo” não aceitou, de forma alguma, que aquela morena, toda pronta, toda cheia de balangandãs, fosse a dona da casa.

Depois de olhar demoradamente para a serviçal, o “gringo” a encarou e  disse:

-- Você não ser a madame!!!  Você não ser a dona da casa!!!”

Violante Pimentel
Violante Pimentel é procuradora aposentada
  do Estado do Rio Grande do Norte
Em seguida, o vendedor olhou com respeito para a minha mãe, suja de tisna da cabeça aos pés,  inclusive com os braços e mãos cheios de cinzas, e não relutou em contestá-la.

O homem não se convenceu de que aquela morena produzida, bonitona e perfumada, cheia de balangandãs, fosse a dona da casa. Olhou para a minha saudosa mãe, Lia Pimentel, e disse:

-- Você, sim! Você ser a dona da casa! A madame ser você!!!

Mamãe se desculpou e pediu para que o vendedor voltasse outro dia. A serviçal seguiu para o dentista, desapontada por não ter convencido o caixeiro-viajante de que era a patroa...




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