SEDE NACIONAL DO PT |
DISCURSO ERRÁTICO FAZ DO PT
UMA LEGENDA CÔMICA
(Por Josias de Souza) O
PT reuniu sua Executiva nacional nesta terça-feira (31). Divulgou uma resolução
que desdiz o conteúdo de outra resolução aprovada pelo Diretório nacional da
legenda há apenas duas semanas. Ao perceber que o primeiro documento, divulgado
nas pegadas do afastamento de Dilma Rousseff, saiu rapidamente de moda, o
partido encurtou um pouco a bainha, tingiu de outra cor, alargou nos ombros,
apertou na cintura, colocou uns babados e saiu à rua como se a manifestação
original não existisse.
Na
resolução de duas semanas atrás, datada de 17 de maio de 2016, o PT referiu-se
à investigação que quebrou as pernas da oligarquia política e empresarial
corrupta nos seguinte termos:
“A
Operação Lava Jato desempenha papel crucial na escalada golpista. Alicerçada
sobre justo sentimento anticorrupção do povo brasileiro, configurou-se
paulatinamente em instrumento político para a guerra de desgaste contra
dirigentes e governantes petistas, atuando de forma cada vez mais seletiva
quanto a seus alvos, além de marcada por violações ao Estado Democrático de
Direito.”
No
novo texto, de 31 de maio de 2016, a Lava Jato deixa de ser um instrumento a
serviço dos “golpistas” e vira um incômodo do qual os mesmos “golpistas” querem
se livrar. Crítico contumaz dos vazamentos de fragmentos da investigação, o PT
serviu-se gostosamente dos diálogos gravados pelo ex-presidente da Transpetro
Sérgio Machado e divulgados por uma velha inimiga do petismo: a “mídia
golpista”.
O
PT realça os trechos do autogrampo de Sérgio Machado que derrubaram dois
ministros do governo de Michel Temer: Romero Jucá (Planejamento) e Fabiano
Silveira (Transparência).
Sobre
os áudios que capturaram a voz de Jucá, o PT anotou: “Fica claro que a
deposição da presidenta Dilma tem por um dos objetivos o estancamento das
investigações no âmbito da Operação Lava Jato relacionadas aos partidos que
engendraram o golpe. Como disse Jucá: 'tem que ficar onde está…', ou seja,
seletivamente apenas criminalizar o PT e seus dirigentes.”
“Nas
gravações do ex-ministro Fabiano Silveira, este oferece orientações de como
escapar do processo de investigação da Operação Lava Jato e suas ramificações,
justamente o ministro encarregado da transparência e combate à corrupção”,
acrescentou a nova resolução petista. “A suposta agenda ‘ética’ do governo
golpista se esfarela. Tudo confirma que uma das faces do golpe é a interrupção
do combate à corrupção, processo que avançou enormemente com as medidas implementadas
durante os governos Lula e Dilma.”
Um
detalhe potencializa o caráter humorístico da segunda manifestação do PT: foi
nos governos de Lula e Dilma que o PMDB tornou-se cúmplice do PT no assalto à
Petrobras e a outros nichos do Estado. Só na Transpetro, Sérgio Machado, um
afilhado político de Renan Calheiros, plantou bananeira dentro do cofre durante
12 anos. Ou seja, mais do que medidas anticorrupção, o que o PT ofereceu mesmo
à PF e à Procuradoria foi matéria-prima para inquéritos e denúncias.
Também
na economia, as duas resoluções do PT se entrechocam. Na primeira, o partido
esculhambou Dilma. Sustentou que a crise empurrou a presidente petista para
“uma encruzilhada: acelerar o programa distributivista, como havia sido
defendido na campanha da reeleição presidencial, ou aceitar a agenda do grande
capital, adotando medidas de austeridade sobre o setor público, os direitos
sociais e a demanda, mais uma vez na perspectiva de retomada dos investimentos
privados.” E Dilma optou pela agenda do “grande capital”, concluiu o seu
partido.
Para
o PT de 15 dias atrás, o ex-ministro Joaquim Levy, o tucano a quem Dilma
confiou a pasta da Fazenda no primeiro ano do segundo mandato, levou o governo
ao inferno. “O ajuste fiscal, além de intensificar a tendência recessiva, foi
destrutivo sobre a base social petista, gerando confusão e desânimo nos
trabalhadores, na juventude e na intelectualidade progressista, entre os quais
se disseminou a sensação, estimulada pelos monopólios da comunicação, de
estelionato eleitoral. A popularidade da presidenta rapidamente despencou…”
No
novo documento, o PT desta terça-feira defende a volta de Dilma sob o argumento
de que o interino Michel Temer tenta “implementar e aprofundar o programa
neoliberal derrotado nas eleições de 2014”. Ora, mas Dilma já não tinha
abandonado esse programa de 2014? Não foi por conta do estelionato eleitoral
que sua popularidade “despencou”?
Analisando-se
as duas resoluções do PT, chega-se à seguinte conclusão: Fora a falta de rumo,
a incoerência, a ausência de autocrítica, a flacidez ideológica, a descortesia
com os aliados de mais de uma década e a autodesmoralização, o novo discurso do
PT é uma boa peça… de humor.
JOSIAS DE SOUZA |
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