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O PAÍS DO FUTURO
Blog do Noblat - 25/06/2016
- 01h20
(Por Ruy Fabiano) A
degradação da política brasileira, hoje no banco dos réus, mergulhou o país no
vácuo do imponderável. Ninguém arrisca um palpite sobre o dia de amanhã – na
verdade, nem mesmo o de hoje.
De
repente, do nada, surge mais uma operação policial, encarcerando um ou mais
notáveis da República, asseclas e operadores, expondo mais vísceras de algum
segmento político-partidário. Ou de todos. Faz dois anos que isso acontece.
Esta
semana, foi a vez do ex-ministro Paulo Bernardo, do PT, que serviu a Lula e a
Dilma. Sua mulher, a senadora Gleisi Hoffmann, continua servindo – e deve
acompanhá-lo, em breve, na desdita.
Em
Pernambuco, a Polícia Federal descobriu outra conexão criminosa, desta vez
envolvendo a campanha do falecido ex-governador de Pernambuco e candidato à
Presidência, Eduardo Campos, morto em 2014, num desastre de avião.
A
operação Turbulência descobriu que a aeronave acidentada havia sido adquirida
com dinheiro público roubado. Os financiadores de Campos mantiveram apoio à
campanha da candidata que o sucedeu, Marina Silva. E Leo Pinheiro, da OAS, em
delação, disse que também doou propina da Petrobras à campanha de Marina.
Amplia-se,
pois, o arco partidário sob suspeição pública e investigação policial. O PSB
acaba de integrá-lo. A próxima sucessão presidencial, com sua inevitável bolsa
de apostas, tornou-se tema de videntes e cartomantes. No campo da ciência
política, os dados não autorizam especulações. A lógica saiu de cena.
As
pesquisas de opinião, por isso mesmo, tornaram-se vazias. E não apenas pela
distância do pleito, previsto para 2018 - mas que pode ocorrer antes (ou nem
ocorrer, segundo os mais pessimistas) -, e sim pela gradual saída de cena dos
nomes até aqui tidos como óbvios. Como não há vazio no poder, hão de surgir
outros. Quais?
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RUY FABIANO, JORNALISTA E ESCRITOR |
Depende
dos que sobreviverem até lá. E eis aí o temor que se instala. Num paralelo, a
Operação Mãos Limpas, ocorrida na Itália, nos anos 90 – fonte de inspiração do
juiz Sérgio Moro –, também produziu um haraquiri na política italiana. Mas, por
falta de renovação dos quadros dirigentes de lá – e por um acordo político
entre os que dela escaparam – levou a um desfecho decepcionante. E paradoxal.
Resultou
na ascensão de um político burlesco – e corrupto –, Sílvio Berlusconi, que
dominaria a cena política de 1994, quando se tornou primeiro-ministro pela
primeira vez, até 2011, em que finalmente foi banido, após ocupar por quatro
vezes a chefia do governo. Nesse período, fez aprovar leis que enfraqueceram o
Judiciário, submetendo-o ao poder político.
O
resultado é que a corrupção venceu e seu símbolo passou a ser exatamente um
sobrevivente das Mãos Limpas (mesmo sem tê-las), ele próprio, Berlusconi. Por
aqui, há sinais preocupantes.
O
presidente do Senado, Renan Calheiros, já se manifestou contra as delações
premiadas, sugerindo que apresentará projeto de lei restringindo-as. Ninguém
duvida que o atual Congresso apoiaria entusiasticamente tal iniciativa, além de
outras, que reduzissem, por exemplo, os poderes do Ministério Público.
Criatividade não falta.
Ao
tempo da CPI dos Anões do Orçamento, em 1993/94, em que pela primeira vez
parlamentares cassavam parlamentares, Antonio Carlos Magalhães reuniu-se com
alguns chefes partidários para propor uma saída que impedisse o que chamou de
“guerra de extermínio”. O acordo resultou na entrega de algumas cabeças
coroadas para preservar as demais. Funcionou – e a nave seguiu.
“O
mantra de que as instituições estão funcionando é verdadeiro,
mas
nem sempre se sabe como e para quem.
Sempre
funcionaram, mas naquela base”
A
diferença é que agora o Congresso não é tribunal, mas banco dos réus. Há um
juiz implacável, que infunde temor até à mais alta Corte, que, por sua vez, é
mais política (e partidária) que jurídica. E há ainda uma força-tarefa, que
envolve policiais federais e procuradores, que exercem seu ofício com ardor
missionário.
É
talvez a primeira vez na história que um juiz de primeira instância se sobrepõe
aos cardeais da Suprema Corte, pondo-os a nu.
O
advento da internet, com suas redes sociais, estabelece ainda poderoso
diferencial: enseja efetiva participação da sociedade, propiciando em curto
prazo mobilizações de massa, em proporções jamais vistas. Foram necessárias
cinco megamanifestações, entre 2015 e 2016, todas demolidoras contra a classe
política e as instituições, para que estas acreditassem que, afinal, opinião
pública existe - e já não é apenas a opinião publicada.
O
mantra de que as instituições estão funcionando é verdadeiro, mas nem sempre se
sabe como e para quem. Sempre funcionaram, mas naquela base. Não mudou muito,
exceto quando temem a contrapartida das ruas. É por aí que há alguma esperança.