internet |
GOVERNO DE “NOTÓRIOS”,
DE NOTÁVEIS, NÃO!
Blog do Noblat - 05/05/2016
- 03h13
(Por Ricardo Noblat) Michel
Temer havia prometido um ministério de “notáveis” – nomes acima de quaisquer
suspeitas e, reconhecidamente, competentes em suas respectivas áreas de
atuação.
O
ministério ora em formação deverá se tornar conhecido como abrigo não de
“notáveis, mas de “notórios” – nomes acusados de crimes ou apenas alvo de
“suspeitas”.
O
mais recente “notável” a perder lugar no governo foi o médico Raul Cutait, do
Hospital Sírio Libanês, de São Paulo, convidado para ser ministro da Saúde. Ele
aceitara o convite apesar da oposição da família.
O
convite foi retirado porque o Partido Popular (PP) desistiu de patrocinar a
indicação de Cutait. Vejam só: o médico pretendia nomear “nomes notáveis” para
os principais cargos do ministério.
A
bancada federal do PP na Câmara não concordou. Ela quer escolher tais nomes. O
senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, pediu desculpas a Cutait e está à
procura de outro ministro.
Os
chefes militares não costumam se meter com a indicação de nomes para o
Ministério da Defesa. O atual ministro, Aldo Rabelo, é do PC do B, partido que
defende a tese de que impeachment é golpe.
Mas
Temer pediu aos fardados a sugestão de um nome para substituir Rebelo. E eles
sugeriram o do deputado Raul Julgmann (PPS-PE), bancado também pelo ex-ministro
da Defesa Nelson Jobim.
“Dilma
também pensou que o loteamento do governo
lhe asseguraria condições para
governar
e se manter no cargo até o fim do mandato.
Deu
no que está aí”
Julgmann
tem amplo trânsito na área militar, embora, como Rebelo, se diga comunista ou
ex-comunista. Foi um elogiado ministro da Reforma Agrária do governo Fernando
Henrique Cardoso.
Mas
poderá ser atropelado na reta final da montagem do ministério pelo advogado
Antonio Mariz, amigo de Temer há mais de 40 anos. Mariz esteve cotado para o
Ministério da Justiça.
Deixou
de estar quando deu uma desastrada entrevista criticando a delação, tal qual
ela está sendo aceita pela Lava-Jato. Mariz foi advogado de empresas envolvidas
com a operação conduzida pelo juiz Sérgio Moro.
Chefes
militares perguntam, e com razão: “Por que Mariz não serviu para ser ministro
da Justiça e servirá para ser ministro da Defesa? Por que nos pediram a
sugestão de um nome para ministro e não o levam em conta?”
Talvez
porque Julgmann não seja amigo de tantos anos de Temer como é Mariz. No caso,
essa parece ser a explicação mais razoável. Ou a única razoável.
O
experiente Temer, homem de fino trato e de boas intenções, corre o risco de se
tornar a primeira vítima de sua ambição de suceder Dilma. Ela não cairá por
causa dele. Cairia de qualquer jeito.
Ao
apressar-se, porém, em correr atrás de votos para ajudar a depor Dilma, Temer
assumiu o compromisso de retribuir o apoio com mais cargos ou com certos cargos
que não desejava entregar aos partidos.
“Quem
pede, recebe”, ensinou Neném Prancha, teórico do futebol do passado. “E quem se
desloca tem preferência”. Os partidos não pedem, cobram. E se deslocam na
direção de onde tem mais dinheiro.
Temer
meteu-se em uma arapuca difícil de escapar. Dilma também pensou que o
loteamento do governo lhe asseguraria condições para governar e se manter no
cargo até o fim do mandato. Deu no que está aí.
É
improvável que Temer, uma vez presidente, não complete o mandato de Dilma. Mas
não será fácil para ele, refém do que prometeu, aprovar no Congresso tudo o que
deseja e que o país espera.
Ricardo Noblat é jornalista |
Nenhum comentário:
Postar um comentário