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O FUTURO SEM CUNHA
Blog do Noblat - 06/05/2016
- 01h33
(Por Ricardo Noblat) Eduardo
Cunha já vai tarde. Referendada pelo Supremo Tribunal Federal, a decisão do
ministro Teori Zavascki de suspender o mandato dele fez o que a Câmara, por
fraqueza e corporativismo, se arrastava para fazer, e tudo indicava que não
faria: extirpar um mal que envergonhava o país, embora não envergonhasse a
maioria dos deputados.
Dilma
comemorou a decisão de Zavascki. Ela não servirá ao seu desejo de escapar do
impeachment, mas reforçará o discurso de que foi vítima de um golpe. O PT
comemorou — quando nada, a suspensão do mandato de Cunha servirá como um prêmio
de consolação diante do afastamento de Dilma do cargo de presidente.
O
vice-presidente Michel Temer comemorou discretamente. Com tanto apetite pelo
poder, imagine o que Cunha não cobraria por ter ajudado Temer a assumir a
Presidência da República. Incomodava Temer a hipótese de, como presidente da
Câmara, Cunha vir a substituí-lo em suas eventuais ausências.
Cunha
tem muitos aliados na Câmara como já demonstrou à farta. Mas tudo se pode pedir
a um político, tudo — menos que se suicide. Poucas horas depois de conhecer a
decisão de Zavascki, e apesar de surpreendida por ela, uma parcela expressiva
dos deputados já discutia nomes com chances de sucederem Cunha na presidência
da Câmara. Cunha já era.
O
sucessor completará o mandato de Cunha, que se encerraria no início de
fevereiro do próximo ano. O segundo semestre de 2016 será tomado pela
realização das eleições municipais. A Câmara ficará esvaziada, como de resto o
Senado. Pouco importa, porém. Presidir a Câmara, mesmo que por pouco tempo,
enriquece a biografia de qualquer deputado.
O
pragmatismo dos políticos acabará por apressar na Câmara o julgamento de Cunha,
acusado de quebra de decoro por ter mentido em CPI sobre dinheiro que mantinha
escondido na Suíça. A decisão de Zavascki não interromperá o processo a que
Cunha responde no Conselho de Ética. Parecer do Conselho será votado mais
adiante pelos 512 deputados.
Nem
por isso deve-se subestimar a capacidade de resistência de Cunha, e a liderança
que exerce entre colegas. Uma coisa é certa: a escolha do novo presidente da
Câmara passará por Cunha, o maior eleitor que existe ali.
Ricardo Noblat é jornalista |
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