OS PECADOS CAPITAIS DE DILMA
Por Ricardo Noblat - 11/05/2016
- 03h00
GULA
Dilma
emagreceu 20 quilos no período de pouco mais de um ano e emagreceu o país ao
fazê-lo mergulhar na pior recessão econômica de sua história desde os anos 30
do século passado. Nem por isso deixou de atentar contra o pecado da gula.
Presidente
algum, nem mesmo os da ditadura de 64, se empenhou tanto em concentrar o poder
como Dilma o fez. Seu apetite era insaciável. Confiou em poucos auxiliares. E
mesmo desses costumava duvidar quando lhe diziam o que não queria ouvir. “Não,
você não entende de nada disso”, gritava se a opinião de um a contrariasse.
Dilma
jamais inspirou ternura ou respeito entre os que a cercavam. Inspirava temor.
Certa vez, de tão assustada com o que ela lhe disse, uma ministra da área
social fez pipi na calça.
Um
executivo de empresa moderna delega poderes, estabelece metas e cobra
resultados. Dilma cobrou resultados sem delegar suficientes poderes. Foi uma
gerente à moda antiga e, como tal, ineficiente.
Na
organização de esquerda na qual militou nos anos 70, ganhou fama como
tarefeira. Fazia o que lhe mandavam. E só se distinguiu por isso.
AVAREZA
Ganha
um fim de semana com Dilma no Palácio da Alvorada quem apontar uma dezena de
pessoas alvos de elogios feitos por ela.
Risque
a palavra elogio do vocabulário capenga de Dilma.
O
que move gente, o que a leva a superar limitações, é o reconhecimento. Sem ele
não se consegue desempenho acima da média.
A
maioria dos ministros escolhidos por Dilma destacou-se por sua mediocridade ou
falta de iniciativa. Mas mesmo os que não eram medíocres, acabaram se igualando
aos demais por falta de incentivo.
Fernando
Haddad, atual prefeito de São Paulo, largou o Ministério da Educação. Nelson
Jobim, o Ministério da Defesa para não ter que brigar com Dilma. O ex-ministro
Edison Lobão, de Minas e Energia, resignou-se a tocar um ministério com nomes
indicados por Dilma para os cargos mais estratégicos. Aproveitou o tempo
disponível para fazer negócios e se dar bem. É hoje investigado pela Lava-Jato.
LUXÚRIA
O
desejo egoísta por todo o prazer corporal e material está longe de marcar o
desempenho de Dilma como presidente. Mas o desejo de sentir-se superior em
relação aos seus semelhantes é também uma forma de luxúria, e desse mal ela
padeceu.
Enquanto
foi ministra de Lula, comportou-se face a ele como uma humilde cumpridora de
ordens. Uma vez, acertou-se com Geddel Vieira Lima, então ministro da
Integração Nacional, sobre o trecho por onde deveria começar a transposição das
águas do rio São Francisco. Depois, ela o acompanhou à uma reunião com Lula.
Ouviu Geddel dissertar sobre as vantagens do trecho escolhido, mas calou-se
quando Lula discordou. Então passou a defender o ponto de vista de Lula.
A
necessidade de afirmação de Dilma agravou-se tão logo ela foi eleita para
suceder Lula. Exigiu, a partir dali, ser tratada como “presidenta”. Jamais
furtou-se a humilhar os que somente tolerava. Expulsou um general do elevador
privativo do Palácio do Planalto. Fez chorar José Sérgio Gabrielli, presidente
da Petrobras. E deixou em pânico o jardineiro do Alvorada ao culpá-lo pela
bicada de uma ema no cachorro que ela ganhara de presente do ex-ministro José
Dirceu.
IRA
Um
dos ministros do governo inicial de Dilma deu-se ao prazer de anotar os
frequentes surtos de ira que a acometia. Quando já colecionava 16 episódios em
dois anos, abdicou do trabalho. Os surtos haviam se banalizado. Alguns se
tornaram famosos em 13 anos de governos do PT.
Dilma
era ministra das Minas e Energia e recebia um deputado da oposição quando
Erenice Guerra e um assessor irromperam em seu gabinete. Erenice limitou-se a
estender um papel para Dilma, que depois de lê-lo, explodiu: “Esses caras estão
pensando o quê? Que vão botar aqui?” – e apontou para a própria bunda. “Aqui,
nem a ditatura pôs”. Tão logo Erenice e o assessor saíram, Dilma começou a
gargalhar. Virou-se para o deputado e disse: “Essa gente tem de ser tratada
assim”. Picou o papel e retomou a conversa.
Como
presidente, Dilma protagonizou o que ficaria conhecido como “A guerra dos
cabides”. Irritada com a arrumação do seu guarda-roupa no Alvorada, começou a
jogar cabides em Jane, a camareira. Que reagiu jogando cabides nela. Jane
acabou demitida, mas depois presenteada com outro emprego em troca do seu
silêncio.
INVEJA
Quem
se acha não inveja seus semelhantes. A não ser que reconheça que pelo menos um
deles possa lhe ser superior.
A
inveja de Lula responde por uma série de atritos que Dilma teve com ele,
prejudicando seus governos. No primeiro, logo de saída, ela quis mostrar que
não seria tolerante como Lula fora com suspeitos de corrupção. Nascia, ali, a
“faxineira ética”, capaz de demitir sete ministros em menos de um ano. Nos anos
seguintes, aconselhada por Lula, ela readmitiu alguns e empregou representantes
dos outros para garantir apoio à sua reeleição. A faxineira ética teve vida
curta.
Havia
um pacto não escrito firmado por ela com Lula que permitiria o retorno dele à
presidência em 2014. Dona Marisa, mulher de Lula, jamais perdoou Dilma por ter
passado seu marido para trás. Dilma é mulher de confronto. Lula só confronta da
boca para fora. Ela ganhou a parada, mas, por pouco, não perdeu a eleição para
Aécio Neves, candidato do PSDB. Ganhou, também, a mágoa de Lula para sempre.
“Eu errei, não deveria ter escolhido essa mulher”, repete ele à exaustão.
Ricardo Noblat é jornalista |
PREGUIÇA
De
dar longos expedientes, certamente não. De ler relatórios e de anotá-los,
também não. De meter-se em tudo, inclusive no que não deveria, tampouco. A
preguiça de Dilma, talvez a forma mais perversa de preguiça, foi de ouvir, de
conversar, de trocar ideias, de conviver com pessoas.
Dilma
é uma mulher solitária e atormentada por seus demônios. Amava o pai. Não se
dava bem com a mãe, e ainda não se dá. Considera a filha “insuportável”, como
uma vez confessou. A mãe mora com ela no Alvorada. Mas antes morava com o
ex-marido de Dilma em Porto Alegre.
Quando
a Câmara aprovou o impeachment, o ministro Jaques Wagner sugeriu a Dilma que
telefonasse para cada um dos 137 deputados que haviam votado contra. Seria um
gesto simpático. Wagner entregou a Dilma a lista dos 137 com pelo menos dois ou
três números de telefone de cada um. Destacou quatro telefonistas para fazerem
as ligações. Dilma não quis.
O
vice Michel Temer telefonou para quase todos os 367 deputados que votaram a
favor do impeachment. Muitas razões explicam a queda de Dilma, mas talvez a
principal seja o fato de ela não gostar de ninguém e de ninguém gostar dela.
SOBERBA
A
vaidade é o pecado preferido do carismático personagem vivido por Al Pacino no
filme “Advogado do Diabo”. A soberba talvez tenha sido o pecado preferido de
Dilma. Por soberba, ela desprezou os políticos em geral, e a maioria deles em
particular. Evitou aproximar-se deles. Evitou recebê-los. Tratou-os como cargas
que era obrigada a carregar. Ao então
deputado Paulo Rocha (PT-PA), referindo-se à sua atividade na Câmara, uma vez
ela observou: “Não sei como você suporta isso”. Há mais de três anos que o
ex-senador Eduardo Suplicy (PT-SP) pede para ser recebido por ela – sem
sucesso.
Diante
do risco de a Lava-Jato bater à sua porta antes da reeleição, Dilma divulgou
uma nota que afastava qualquer culpa dela, mas que deixava Lula exposto à
suspeita de que a roubalheira na Petrobras fora obra dele, sim. Pode ter sido.
Mas pode ter sido de Dilma também.
Por
mais que a soberba a impeça de reconhecer, ela e Lula estarão ligados para
sempre pela história do país. Para o bem ou para o mal. Hoje, são as
conveniências, apenas elas, que os fazem encenar uma parceria que já se desfez.
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