INTERNET
ESTALOS DE LEMBRANÇA
Mãe
que letra é essa?
E
essa?
E
essa daqui?
Caixa
de sabão em pó, lata de óleo (é, sou desse
tempo),
caixa de remédio, placas de rua.
Tudo
eu queria ler e minha mãe vendo o meu descontentamento
e
fome por saber, me alfabetizou.
Minha
primeira professora...lógico que quando fui para a
escola
tinha vários vícios, mas não dei trabalho a professora.
Não
as chamávamos de tia, era dona fulana ou somente
professora.
Dona
Maria Auxiliadora, minha primeira professora oficial
era
grandona, alta, de cabelos curtos, por debaixo daqueles
óculos
redondinhos eu a achava tão bonita.
Sua
voz ressoava na sala e o silêncio era imediato.
Minha
escola parecia o mundo, com grandes árvores cujas
raízes
transgressoras, rasgavam o chão pra respirar.
Na minha
imaginação eu podia jurar que eram baobás.
A
campainha tocava e saltava criança de tudo que era canto,
eu
observava as lancheiras e o que saíam delas, sucos, frutas
biscoitos.
Sentava-me em uma das raízes e abria o meu
guardanapo,
por sorte o pão tinha recheio, mas nem sempre
era
assim, das vezes oferecia um pedaço pra professora, mas
ela
nunca aceitava, nos deixava no recreio e ia pra sala dos
professores.
Eu
era quase sempre a primeira a copiar todo o dever, a fazer
a
redação, a colorir um mapa e o meu caderno sempre em
dia
e sem orelhas servia de exemplo.
Na
simplicidade do meu dia a dia acumulei experiências, algumas
bem
dolorosas, como no dia em que acordei muito
mal,
mas minha mãe não acreditou em mim. Voltei pra casa
com
o casaco amarrado na cintura e um séquito de mosquitinhos
a
minha volta, tadinha, ela ficou pior do que eu.
Ah!
E mais e mais eu escreveria! A memória é um prodígio, reacende a cada estalo de
lembrança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário