quarta-feira, 25 de maio de 2016

NÚBIA NONATO

INTERNET

ESTALOS DE LEMBRANÇA

Mãe que letra é essa?
E essa?
E essa daqui?
Caixa de sabão em pó, lata de óleo (é, sou desse
tempo), caixa de remédio, placas de rua.
Tudo eu queria ler e minha mãe vendo o meu descontentamento
e fome por saber, me alfabetizou.

Minha primeira professora...lógico que quando fui para a
escola tinha vários vícios, mas não dei trabalho a professora.
Não as chamávamos de tia, era dona fulana ou somente
professora.

Dona Maria Auxiliadora, minha primeira professora oficial
era grandona, alta, de cabelos curtos, por debaixo daqueles
óculos redondinhos eu a achava tão bonita.
Sua voz ressoava na sala e o silêncio era imediato.

Minha escola parecia o mundo, com grandes árvores cujas
raízes transgressoras, rasgavam o chão pra respirar.
Na minha imaginação eu podia jurar que eram baobás.

A campainha tocava e saltava criança de tudo que era canto,
eu observava as lancheiras e o que saíam delas, sucos, frutas
biscoitos. Sentava-me em uma das raízes e abria o meu
guardanapo, por sorte o pão tinha recheio, mas nem sempre
era assim, das vezes oferecia um pedaço pra professora, mas
ela nunca aceitava, nos deixava no recreio e ia pra sala dos
professores.

Eu era quase sempre a primeira a copiar todo o dever, a fazer
a redação, a colorir um mapa e o meu caderno sempre em
dia e sem orelhas servia de exemplo.
Na simplicidade do meu dia a dia acumulei experiências, algumas
bem dolorosas, como no dia em que acordei muito
mal, mas minha mãe não acreditou em mim. Voltei pra casa
com o casaco amarrado na cintura e um séquito de mosquitinhos
a minha volta, tadinha, ela ficou pior do que eu.

Ah! E mais e mais eu escreveria! A memória é um prodígio, reacende a cada estalo de lembrança.

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