GESTÃO TEMER VIROU FUTURO
OBSOLETO EM 12 DIAS
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(Por Josias de Souza) O
governo provisório de Michel Temer passou da expectativa à decadência sem o
estágio intermediário de pelo menos algo capaz de inspirar uma exclamação do
tipo ‘agora vai!’. Parece faltar ao substituto constitucional de Dilma Rousseff
presidente interino uma noção qualquer da dimensão histórica do momento. Temer
desperdiça a sua hora.
O
presidente interino precisa realizar duas tarefas: restaurar a normalidade
econômica e promover uma certa assepcia nos negócios públicos. Para devolver a
confiança aos investidores, o governo transitório pede ao Congresso que lhe
entregue uma meta fiscal realista para 2016 — déficit de R$ 170,5 milhões— e
racionaliza seus gastos. Mas há na atmosfera uma fome de limpeza que Temer não
consegue saciar. O déficit estético do governo é incalculável.
Temer
faz juras de apreço à Lava Jato. Mas permanece abraçado ao pedaço do PMDB que é
cúmplice do PT no assalto ao Estado. A coreografia da queda de Romero Jucá
potencializou a incômoda sensação de que, por alguma razão, Temer não tem
condições de se dissociar do pedaço do PMDB que está podre.
Gravado
numa conversa em que sugere que o impechment de Dilma e a ascensão de Temer
criariam um ambiente propício à interrupção da Lava Jato, Jucá consolidou-se
como uma espécie de vampiro solto no banco de sangue. Mas Temer continuou
tratando o amigo como um reles bebedor de groselha.
Em
vez de demiti-lo na primeira hora, Temer deu tempo a Jucá para explicar o
inexplicável. As alegações não colaram. Mas a preocupação do Planalto era
arrumar uma saída honrosa para Jucá, não uma satisfação adequada à opinião
pública. Horas depois de informar que não deixaria o ministério, Jucá anunciou
que pediria licença de um cargo para o qual jamais deveria ter sido nomeado.
Combinado
o desfecho, Temer soltou uma nota. Nela, deixou a porta do governo entreaberta
para o retorno de Jucá: o afastamento vai durar “até que sejam esclarecidas as
informações divulgadas pela imprensa”, anotou. Além de não recriminar, elogiou
Jucá pelo “trabalho competente e a dedicação…”
A
licença de Jucá é apenas retórica. Em verdade, ele será exonerado do cargo. Do
contrário, não poderia reassumir seu mandato de senador. Sabe-se que são
remotas as chances de retornar à Esplanada. O governo busca um substituto. O
que torna ainda mais espantosa a reverência dispensada por Temer a Jucá.
Na
semana passada, Temer já havia tratado com inusitado respeito uma demanda nada
respeitosa do amigo Eduardo Cunha. Rendera-se à vontade do presidente afastado
da Câmara, réu na Lava Jato, nomeando o preferido dele para o posto de líder do
governo: o deputado André Moura, outro investigado da Lava Jato, réu em três
ações penais no STF, uma delas por tentativa de homicídio.
“Logo,
logo o lema positivista que o marqueteiro do PMDB retirou da bandeira para
servir de slogan para o novo governo será substituído. Em vez de ‘Ordem e
Progresso’, o mais adequado talvez seja ‘Negócio é negócio’”
Dono
de uma carreira política de três décadas, Temer não é um neófito na matéria.
Longe disso. Daí a suspeita de que ele se integra à banda suja do PMDB por
necessidade. É como se precisasse se rebaixar para entrar em sintonia com o
todo. Ou, por outra, age como se tivesse de assegurar a fidelidade ao grupo
pela cumplicidade, igualando-se aos demais na abjeção.
A
surpreendente submissão de Temer oferece a personagens como Jucá, Cunha e Renan
Calheiros a tranquilidade de que o presidente interino jamais ameaçará a
integridade do grupo com a alegação de que é diferente — ou inocente.
Ao
vincular-se à turma que tem saudades do tempo em que os escândalos eram
enterrados vivos e ninguém pedia exumação, Temer rende homenagens a réus,
investigados por assalto aos cofres públicos e até um suspeito de tentativa de
homicídio. Com isso, reforça a impressão de que, sem essa gente, seu governo
perderia aquilo que lhe é vital: o enredo.
Em
apenas 12 dias, a gestão de Michel Temer virou um futuro obsoleto. Logo, logo o
lema positivista que o marqueteiro do PMDB retirou da bandeira para servir de
slogan para o novo governo será substituído. Em vez de ‘Ordem e Progresso’, o
mais adequado talvez seja ‘Negócio é Negócio’.
JOSIAS DE SOUZA |
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