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O
BURRO
(Por
Violante Pimentel) Numa floresta, entre os animais, foi
organizado um concurso de canto. A finalidade era eleger como príncipe da
floresta o pássaro que cantasse mais bonito. O Burro, por suas enormes orelhas,
sua postura elegante e seu ar de inteligência e seriedade, foi convocado para
ser o juiz do certame. O número de pássaros inscritos era enorme. Todos eles,
com seus cantos belíssimos e harmoniosos, encantavam a plateia.
A missão do Burro, de
escolher o pássaro vitorioso, estava muito difícil. Mesmo sendo o animal mais inteligente
e respeitado da floresta, e aparentando muita sabedoria, ele estava confuso
diante de tanta beleza. Mas, com certeza, seu julgamento seria revestido de
justiça e sensatez. Ele saberia escolher o pássaro que tivesse o canto mais
bonito. A expectativa era grande e as torcidas organizadas animavam a festa.
O Burro postou-se no meio da
roda e começou o concurso. O bem-te-vi, o concriz, o papa-capim, a graúna, o
sabiá, os canários, o golinha, o galo-de-campina. e, finalmente, todos os
participantes cantaram, um por um, garganteando os seus trinados melodiosos e
harmônicos. Um espetáculo deslumbrante, que deixava a plateia mergulhada em
êxtase. O Burro, com muita altivez, apreciava os detalhes de cada canto, e
atribuía uma nota a cada concorrente.
De repente, no meio dos
candidatos, apareceu uma Gralha, gritando estridentemente e assustando a
plateia.
Gralha é o nome de várias
aves da família dos corvídeos. Difere do corvo, pelas cores de diversos tons de
azul que ostenta.
A barulhenta matraca de penas disse ao Meritíssimo Juiz que também queria
participar do concurso. Ao chegar a sua vez, abriu o enorme bico e matraqueou
uma gritaria de romper os tímpanos de qualquer surdo. Seus pavorosos gritos
abafavam os cantos belíssimos dos outros pássaros.
Terminada a disputa, o
Meritíssimo Juiz proferiu o veredicto:
- Classificou-se em 1º lugar
a Senhora Gralha, porque cantou muito mais forte do que os outros pássaros!
Violante Pimentel é procuradora
aposentada do Rio Grande do Norte
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Houve um sussurro de revolta
e decepção na plateia, formada por todos os animais da floresta, e também entre
os pássaros participantes do certame. Os cantos belíssimos de cada pássaro
foram ignorados pelo Meritíssimo Juiz, o Burro, que se empolgou, apenas, com os
gritos estridentes da Gralha. A revolta da plateia aumentou, tendo havido
protesto e até tentativas de agressões físicas contra o Juiz e contra a própria
Gralha. Mas a decisão do Burro prevaleceu. A Gralha foi a vencedora.
Daí por diante, o conceito
do Burro, perante todos os animais da floresta, caiu completamente. Ficou
provado que, mesmo togado, um Burro será sempre Burro.
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