TEMER, NOS TRAÇOS DE AMARILDO |
RESERVADA PARA O PP, CAIXA
DESTOA
DA DESPOLITIZAÇÃO NA ÁREA ECONÔMICA
(Por Josias de Souza) No
discurso inaugural do seu governo provisório, Michel Temer declarou, há dez
dias, que “a moral pública será permanentemente buscada” na sua gestão.
Referiu-se à Lava Jato como “referência” em matéria de apuração de desvios. Por
isso, realçou, a operação “deve ter proteção contra qualquer tentativa de
enfraquecê-la.”
Observando-se
os personagens de que se cercou o novo presidente, fica difícil ouvi-lo falar
em “moral pública” sem reprimir o sorriso. É como se a caneta de Temer
conspirasse para fazer dele um farsante. Ela toma a Lava Jato como “referência”
às avessas. Depois de nomear ministros enrolados no escândalo, prepara-se para
colocar no comando da Caixa Econômica Federal um apadrinhado do PP.
PP
é a sigla de Partido Progressista. Mas poderia se chamar Partido do Petrolão.
Considerando-se a quantidade de filiados sob investigação —mais de três
dezenas—, a legenda está no topo do ranking da Lava Jato. Ainda assim, o PP já
foi aquinhoado com os ministérios da Saúde (deputado Ricardo Barros) e da Agricultura
(senador Blairo Maggi).
“Observando-se
os personagens de que se cercou o novo presidente, fica difícil ouvi-lo falar
em “moral pública” sem reprimir o sorriso. É como se a caneta de Temer
conspirasse para fazer dele um farsante”
Numa
tentativa de justificar o acréscimo da presidência da Caixa ao butim do PP,
auxiliares de Temer alegam que o partido indicou para o posto um funcionário de
carreira da instituição bancária estatal. Chama-se Gilberto Occhi. Sob Dilma,
ele serviu ao PP como ministro das Cidades entre 17 de março de 2014 e 1º de
janeiro de 2015.
Quatro
dias antes da votação do impeachment na Câmara, Occhi foi nomeado por Dilma
ministro da Integração Nacional. O presidente do PP, senador Ciro Nogueira
(PI), um dos encalacrados na Lava Jato, encostou a barriga no balcão de Temer.
Vendeu sua suposta lealdade à presidente petista por dois ministérios e o
comando da Caixa. Em carta endereçada a Dilma, Occhi exonerou-se da Integração.
Antes
de entregar o controle da Caixa Econômica Federal ao “servidor de carreira” do
PP, Temer deveria requisitar cópia do depoimento prestado pelo delator Paulo
Roberto Costa ao doutor Sérgio Moro em outubro de 2014. Funcionário de carreira
da Petrobras, Paulo Roberto tornou-se diretor de Abastecimento da estatal por
indicação do PP.
Se
estiver sem tempo, Temer pode se concentrar apenas na última pergunta que o
juiz da Lava Jato fez ao delator. Lendo-a, o presidente interino perceberá que
o lero-lero do “servidor de carreira” está com o prazo de validade vencido.
Antes de dar por encerrado o interrogatório, Sérgio Moro perguntou se Paulo
Roberto gostaria de “dizer alguma coisa”.
Eis
o que disse o delator: “Queria dizer só uma coisa, Excelência. Eu trabalhei na
Petrobras 35 anos. Vinte e sete anos do meu trabalho foram trabalhos técnicos,
gerenciais. E eu não tive nenhuma mácula nesses 27 anos. Se houve erro —e
houve, não é?— foi a partir da entrada minha na diretoria por envolvimento com
grupos políticos, que usam a oração de São Francisco, que é dando que se
recebe. Eles dizem muito isso. Então, esse envolvimento político que tem, que
tinha, depois que eu saí não posso mais falar, mas que tinha em todas as
diretorias da Petrobras, é uma mácula dentro da companhia…”
JOSIAS DE SOUZA |
Convidado
por Temer na semana passada para presidir a Petrobras, o engenheiro Pedro
Parente, ex-chefe da Casa Civil do governo FHC, impôs uma condição. Foi
atendido. Na entrevista coletiva que concedeu na sequência, Parente informou a
boa nova aos repórteres: “Não haverá indicações políticas na Petrobras.” O
acerto será reproduzido no BNDES, cujo comando foi confiado a uma executiva
respeitada: Maria Silvia Bastos Marques, ex-presidente da Companhia Siderúrgica
Nacional. Por que diabos será diferente na Caixa?
Governar
o Brasil não é tão ruim quanto parece. O horário é bom, o dinheiro é razoável,
viaja-se muito e há sempre a possibilidade de poder demitir o Romero Jucá da
pasta do Planejamento e retirar o André Moura da liderança do govenro na
Câmara, providências que devem resultar em boas sensações. Nos seus primeiros
dez dias, Temer ofendeu a inteligência alheia ao trombetear a “moral pública”
sob o telhado de vidro. Se levar adiante o plano de entregar a Caixa ao
indicado do PP, Temer convidará a nação a fazer papel de boba. Não será
atendido.
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