internet |
CUNHA VIROU ENTULHO
NA PORTA
DA GESTÃO TEMER
Blog do Josias – 06/05/2016 –
4h00
(Por Josias de Souza) Um
auxiliar do vice-presidente Michel Temer comparou Eduardo Cunha a um
eletrodoméstico velho. Foi muito útil para passar Dilma Rousseff no triturador
do impeachment. Mas agora incomoda pela pouca serventia e pelo excesso de
barulho. Depois que o STF o afastou do exercício do mandato, o ideal para Temer
seria desligar Cunha da tomada. Mas ainda não foi encontrada uma maneira de
fazer isso sem transformá-lo num curto-circuito.
Longe
dos refletores, um aliado de Cunha, o deputado ‘petroleiro’ Arthur Lira
(PP-AL), sugeriu ao amigo que renunciasse à presidência da Câmara em troca de
um acordo suprapartidário que preservasse o seu mandato. A oferta foi refugada,
relatou Lira a outros integrantes da infantaria parlamentar de Cunha. As
legendas de oposição decidiram esticar a corda. PSDB, DEM, PPS e PSB propuseram
que a Câmara simplesmente declare vago o cargo de presidente, marcando a
eleição do substituto de Cunha para dali a cinco sessões legislativas.
Na
noite desta quinta-feira, os líderes oposicionistas expuseram a proposta da
vacância numa reunião com lideranças de legendas vinculadas a Cunha. Entre elas
PMDB, PP, PR, PTB e Solidariedade. A fórmula não foi bem recebida. Um dos que
se manifestaram contra foi Leonardo Picciani, líder do PMDB, partido de Cunha.
Ele defendeu que seja mantido no comando da Câmara o número 2 de Cunha, o
vice-presidente Waldir Maranhão, do PP maranhense.
O
deputado Rubens Bueno, líder do PPS, interveio para recordar a Picciani que o
governo que se instalará nas pegadas do afastamento de Dilma Rousserff é do
PMDB. Disse que Temer terá de lidar com as crises econômica e política.
Certamente submeterá à apreciação do Congresso propostas que exigirão aprovação
rápida. Convém desintoxicar a Câmara. Bueno foi ecoado por Antonio Imbassahy
(PSDB) e Paudernei Avelino (DEM). O grupo ficou de se reunir novamente na noite
de segunda-feira.
Num
primeiro momento, a notícia sobre o afastamento do presidente da Câmara
instilou uma sensação de alívio no ambiente do Palácio do Jaburu, trincheira de
Temer. Com o passar das horas, o desafogo foi cedendo lugar à apreensão.
Percebeu-se que o Supremo acomodara um entulho na porta de entrada da virtual
gestão Temer. E a remoção exigirá uma costura política que, se for mal
executada, pode infeccionar ainda mais a Câmara.
Cunha
recebeu a notificação sobre a liminar que interrompeu o seu mandato no
alvorecer da quinta-feira. Estava na residência oficial da Câmara. Hesitou em
rubricar o documento. Na noite anterior, ele fazia barulho no Jaburu.
Esforçava-se para enfiar apaniguados dentro do futuro governo. Parecia à
vontade no papel de credor político do substituto constitucional de Dilma.
Súbito, tornou-se, ele próprio, personagem de uma espécie de impeachment
judicial.
A
posição de Cunha é análoga à da presidente petista. Com uma diferença: se Dilma
for afastada pelo Senado, na próxima quarta-feira (11), seu purgatório terá a
duração máxima de seis. É o tempo que a Constiuição oferece aos senadores para
julgar a presidente da acusação de ter cometido crime de responsabilidade
fiscal. No caso de Cunha o afastamento tem duração indefinida. No limite, pode
durar até o julgamento final da ação penal que corre conta ele no STF.
Quanto
mais demorar (a remoção definitiva de
Cunha), maior será o constrangimento. O vexame se agigantará na proporção
direta do aumento da exposição do vice Waldir Maranhão na vitrine do plenário.
Vêm aí espetáculos deprimentes
Assim,
continua interditada a sucessão interna na Câmara. Os deputados só poderão
eleger um substituto para Cunha em três hipóteses: mediante renúncia do
presidente afastado, cassação do seu mandato ou morte. Do contrário, a Câmara
terá de conviver com o constrangimento de ser presidida pelo interino Waldir
Maranhão, um personagem precário, acusado de receber mesada do petrolão.
Demorou
algumas horas, mas a ficha dos deputados caiu. Perceberam que o STF não lhes
fez um favor gratuito. Afastou Eduardo Cunha, mas manteve nas mãos dos seus
pares a prerrogativa de cassar-lhe o mandato. A liminar do ministro Teori
Zavascki, referendada por unanimidade no plenário da Corte Suprema, anotou:
“Além
de representar risco para as investigações penais sediadas neste STF, é um
pejorativo que conspira contra a própria dignidade da instituição por ele
liderada. Em situações de excepcionalidade, em que existam indícios concretos a
demonstrar riscos de quebra da respeitabilidade das instituições, é papel do
STF atuar para cessá-los, garantindo que tenhamos uma República para os comuns,
e não uma comuna de intocáveis…”
O
julgamento do Supremo vale por um empurrão. Mas não desobriga os deputados de
providenciarem, agora numa articulação que envolva o Jaburu, a remoção
definitiva do eletrodoméstico obsoleto. Quanto mais demorar, maior será o
constrangimento. O vexame se agigantará na proporção direta do aumento da
exposição do vice Waldir Maranhão na vitrine do plenário. Vêm aí espetáculos
deprimentes.
Josias de Souza é jornalista |
Nenhum comentário:
Postar um comentário