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BILLY PAUL, O PASSADO E O
PRESENTE
(Por Clóvis Campêlo) Nos
apegamos ao passado porque a ele sobrevivemos. E também porque quando lá
estivemos, éramos jovens e sem as contradições e desesperanças da velhice.
Visto à distância, é assim que o passado nos parece.
Alguns
recusam-se a envelhecer e viver o presente, rumo ao futuro, como se isso fosse
possível. Queira-se, ou não, o tempo passa e nos marca definitivamente. Como
diz dona Dita, a minha sogra, em momentos de divagações filosóficas, quem não
quiser envelhecer que morra jovem. Não sei se por opção ou destino, no alto dos
seus 85 anos de idade, é uma pessoa alegre, feliz e jovial.
Já
outro conhecido, na mesma faixa etária, diz sentir-se como se viajasse sentado
na carroceria de uma camioneta sempre olhando para trás. Sente-se eternamente
desconfortável no presente, como se vivesse em um mundo que lhe é cada vez mais
hostil e agressivo. Para ele, no passado é que ficaram as coisas boas e um
mundo melhor. Infeliz e rabugento, nada lhe agrada ou comove.
Penso
nisso tudo ao tomar conhecimento, hoje pela manhã, da morte do músico americano
Billy Paul. Ele, também octogenário, morreu em casa, vitimado por um câncer,
essa doença quase implacável dos tempos modernos.
E
embora Billy Paul não fizesse parte dos meus músicos preferidos e
indispensáveis, teve uma participação importante na trilha sonora da minha
geração. Nos assustados do Pina dos anos 60 e 70, era indispensável a sua
presença. Depois, escutava-o com uma ponta de nostalgia e de lembrança daqueles
tempos passados e irretornáveis. Nada mais do que isso. Ou seja, muito mais em
função da minha nostalgia patológica do que da importância da sua música para
mim.
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No
acervo de notícias quase inúteis que guardo em casa com devoção, fico sabendo
que, em agosto de 2015, Billy Paul esteve no Recife, apresentando-se na
Manhattan Café Theatro, em Boa Viagem. E eu, que imaginava essa influência
cultural e musical apenas em mão única, descubro surpreso, nessa mesma matéria
jornalística, que o artista americano se dizia admirador da música popular
brasileira e da cultura pernambucana. Entre outras coisas, afirmou: “Já estive
aqui cinco vezes, amo as praias e, principalmente, amo o pudim daqui!”,
brincou. E prometeu: “Vou compor uma música sobre o Recife, inspirada no
Recife, porque as pessoas daqui são muito boas, é um lugar maravilhoso. Merece
uma música.”
Afirmou
ainda que na década de 1970, quando visitou o Brasil pela primeira vez, ouviu
os acordes de uma orquestra de carnaval e se impressionou com o ritmo. Na
ocasião, cantarolou várias vezes o que se tornaria, mais tarde, o arranjo
característico da sua versão de Your song. O compasso remete ao frevo e, para
ele, é o principal motivo da popularidade da canção no país. “No Brasil, Your
song tornou-se mais popular do que Me and Mr. Jones, que geralmente é a mais
famosa, talvez porque os acordes são familiares. Essa música pertence ao
Brasil, definitivamente”, declarou.
Beleza
pura! Billy Paul amava o Recife, que amava Billy Paul!
Recife,
abril 2016
Muito bom, Clovis. Abraço, Quincas
ResponderExcluirObrigado, amigo Quincas. Abraços
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