Stédile: o "general do MST", segundo Lula |
A
POLITIZAÇÃO DO CRIME
Na
lógica revolucionária, roubar pela causa é legítimo.
Lula,
portanto, nada mais fez que cumprir
seu
papel de líder revolucionário
Por
Ruy Fabiano
Blog
do Noblat – 13/01/2018
O
ex-presidente Lula acusa a Lava Jato de criminalizar a política. Concretamente,
porém, dá-se o contrário: diante da revelação dos múltiplos atos de corrupção de
políticos, incluindo os do próprio ex-presidente, o que está em pauta é a
tentativa de politizar o crime. Torná-lo ato político – legítimo e até
louvável.
Lula
é réu em seis processos e já condenado em outro, o do tríplex do Guarujá, em
que foi sentenciado por ocultação de patrimônio e corrupção passiva – e que
será objeto de revisão pelo TRF-4, em Porto Alegre, no próximo dia 24.
Nenhum
deles diz respeito a ações políticas ou ideológicas – e sim, entre outras
coisas, a corrupção passiva, formação de quadrilha, ocultação de patrimônio,
lavagem de dinheiro e até envolvimento em homicídio, o do prefeito de Santo
André, Celso Daniel.
Crimes
comuns, devidamente capitulados no Código Penal. Transformar esse contencioso
em perseguição política é o objetivo da esquerda – de Lula, em particular,
coadjuvado por parte da mídia e pela quase unanimidade dos meios acadêmico e
artístico.
O
tom desses parceiros é de indignação, como se punir o crime fosse um crime
ainda maior. Basta ver o que se está preparando como cenário do julgamento em
segunda instância.
As
lideranças dos assim chamados movimentos sociais – que Lula, mais de uma vez,
chamou de “exércitos” – prometem, em diversos vídeos na internet, baderna de
grosso calibre.
Ruy Fabiano é jornalista |
Falam
em “tocar fogo” na cidade. Stédile, o “general” do MST (ainda conforme Lula),
menciona ações equivalentes por todo o semestre, em todo o país, que culminariam
num ato público no Maracanã, Rio, em julho, onde pretende reunir cem mil
pessoas.
José
Rainha, outro oficial graduado da mesma tropa, réu em diversos processos por
invasões de terras, convoca até crianças para Porto Alegre, e endossa as
promessas de baderna. Como conciliar baderna e crianças sem pô-las em risco – e
sem infringir a lei?
José
Dirceu, multicondenado e (graças ao STF) beneficiário de prisão domiciliar,
comete, em vídeo, na internet, dois crimes de uma só vez: convoca a militância
para a baderna e avisa que estará nela, o que deveria agravar sua condição de
condenado. Mas não é punido ou mesmo advertido. Está certo ao menos num ponto:
a Justiça brasileira é (para dizer o mínimo) vulnerável a pressões políticas.
Mas
as incitações à baderna não partem apenas de militantes. Há políticos, com ou
sem mandato, a fazer o mesmo – e, entre eles, o ex-governador gaúcho Olívio
Dutra, os senadores Lindberg Faria e Gleisi Hoffmann, além de diversos
deputados.
Em
artigos de jornal e em entrevistas de TV, cientistas políticos e professores
acusam o juiz Sérgio Moro de abuso de poder. A professora Marilena Chauí – que
diz odiar a classe média e, simultaneamente, acusa os antipetistas de semearem
a “ideologia do ódio” – diz que Moro foi treinado pelo FBI para banir os
progressistas do poder no Brasil. Sem argumentos, apela às forças ocultas.
Diante
disso, o prefeito de Porto Alegre, Nélson Marchezan, pediu a presença das
Forças Armadas para garantir a segurança pública na cidade. O pedido foi
negado. Argumentou-se que, ao tempo do julgamento de Curitiba, não houve
baderna. Não houve exatamente porque as tropas lá estavam para inibi-la.
Na
lógica revolucionária, roubar pela causa é legítimo. Se parte desse roubo
abasteceu contas particulares, é um detalhe, uma espécie de gorjeta que
remunera o serviço prestado. Lula, portanto, nada mais fez que cumprir seu
papel de líder revolucionário.
“O ‘Fora
Temer’ é um esperneio ridículo, já que o atual
presidente
é fruto da mesma árvore em que brotou Dilma”
A
roubalheira do PT excedeu as que a precederam – no Brasil e no mundo – por se
destinar a um projeto transnacional de poder, o que implicou abastecer de
dinheiro público nacional países vizinhos, envolvidos no projeto bolivariano.
Nesse
período, mais de 13 anos, o governo brasileiro deixou de cuidar dos problemas
locais (e não por falta deles), para cuidar de equalizar estruturalmente os
companheiros de empreitada, o que incluiu obras de infraestrutura, compra de
equipamentos e reforço às respectivas Forças Armadas. Arrolou aí as empresas
nacionais, cúmplices na roubalheira interna: Odebrecht, OAS etc. etc.
O
legado é conhecido: recessão, desemprego, estatais quebradas, orçamento
arruinado, país dividido pelo discurso do “nós” e “eles”. O “Fora Temer” é um
esperneio ridículo, já que o atual presidente é fruto da mesma árvore em que
brotou Dilma.
Por
essa razão, e por estar implicado em parte dos crimes do PT, o governo Temer
não teve força, nem ânimo, nem motivos, para desaparelhar a máquina
administrativa, o que confere aos que o precederam margem de manobra para
impedir – ou dificultar ao extremo – o saneamento moral da República.
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