Trump: uma besta impulsiva fantasiada de gente |
A
ERA DA INSTANTANEIDADE
Xingamentos
não significam mais nada além de raiva animal.
Podem
ser substituídos por emojis, que são mais práticos
Por
Nelson Motta
O
Globo – 19/01/2018
Não
deixe para amanhã o que pode fazer hoje, compre já! Era o slogan de uma rede
varejista nos anos 60, que nunca me saiu da cabeça. Mas aprendi ao longo de
minha vida que é o contrário: não se deve fazer hoje o que podemos fazer
(melhor) amanhã. Não é um elogio do atraso e da procrastinação, mas a
necessidade de tempo para refletir e melhorar suas escolhas. Quanta besteira se
faz por decisões precipitadas, no calor da hora, no trabalho e na vida? Quantas
decisões erradas, que, se fossem adiadas, não seriam tomadas?
Vivemos
na era da instantaneidade, respostas têm que ser imediatas, a voracidade por
novas informações, ainda que falsas ou duvidosas, é insaciável, alimentando
reações em cadeia. Os julgamentos são sumários, as condenações, imediatas,
movidas não só a fanatismo, ignorância, ódio e rancor — mas a pressa e
urgência.
A
reação furiosa que se tem ao ler uma notícia hoje, dois dias depois será mais
serena e racional — que é a melhor forma de defender seu ponto de vista.
Xingamentos
são como ejaculações precoces de ódio, e não atingem mais ninguém. O que é
filho da puta? Viado? Corno? São como rosnados e grunhidos, não significam mais
nada além de raiva animal. Podem ser substituídos por emojis, que são mais
práticos. A preferencia nacional pelos xingamentos de “viado” e “corno” é
sintomática, reflete nossa homofobia e machismo, em todos os sexos, raças e
classes.
O
imediatismo combinado com o exibicionismo pode ter consequências desastrosas,
principalmente para políticos e artistas. A ânsia de aparecer leva a atitudes
temerárias e a situações constrangedoras que os expõem ao ridículo nas redes
sociais.
Não
por acaso, o Twitter é o meio de expressão favorito da besta que habita Donald
Trump, reagindo instantaneamente com seu vocabulário de criança de 8 anos em
128 caracteres. Se escrevesse a mensagem, relesse no dia seguinte, e só então a
publicasse, talvez economizasse micos.
Será
que responder na lata é melhor, mais efetivo, do que ter um tempo para pensar?
Se confirmar a sua escolha, o tempo lhe dará mais convicção; se não, ainda
haverá tempo para mudar.
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