Lula nunca levou a sério o processo contra ele. Errou |
PERDIDAS ILUSÕES
Na ânsia de ver se Lula escapa, o PT fala
até em “derramamento de sangue”
Por J. R. Guzzo
17/01/2018 – 17h30
Estes últimos dias antes do julgamento decisivo do Tribunal Regional
Federal de Porto Alegre sobre a sentença que condenou o ex-presidente Lula a
nove anos e meio de prisão por corrupção têm sido uma coisa triste. Não que se
esperasse nada de melhor por parte do réu e da multidão de advogados nervosos,
militantes frustrados, palpiteiros, puxa-sacos e o resto dos habitantes do seu
sistema ecológico atual. Esperar como, se o comandante supremo teve a ideia
(que muita gente achou genial) de tentar transformar o juiz do processo em réu,
e o réu em juiz? Jamais poderia resultar algo de bom de um negócio desses ─ e
obviamente não resultou.
Lula e o seu exército nunca levaram a sério a ação penal movida
contra ele, achando que jamais “este país” se atreveria a encará-los.
Desprezaram, desde o início, o processo legal. Acharam-se capazes de intimidar
o juiz Sérgio Moro e o MP, como intimidam um tucano qualquer desses que voam
por aí. Ameaçaram, sabe-se lá quantas vezes, entrar em guerra contra “eles”,
parar “este país”, levar para a rua suas tropas de sem-terra, sem-teto e sem
ocupação. Quando perceberam que não iam ganhar no grito, tempos atrás, já não
havia mais o que fazer. Esses são os fatos. Agora, com o desfecho à vista, não
lhes ocorre outra ideia que não seja gritar mais, ameaçar mais e insultar mais
do que têm feito. Conseguem apenas parecer ainda mais desequilibrados.
A presidente do PT, por exemplo, fala em “derramamento de sangue”.
Um senador do partido diz que Lula é o nosso “Nelson Mandela” ─ não diz uma
sílaba, é claro, sobre o detalhe de que Lula teve as máximas garantias da lei
para se defender, e que foi condenado por recebimento de propina. Promete-se,
todos os dias, multidões em Porto Alegre e no resto do Brasil para “impedir” a
execução da sentença.
“Não cabe a ninguém achar ‘melhor ou ‘pior’ que Lula seja
ou não seja candidato. Não é uma questão de opinião.
É unicamente uma questão de justiça”
A mídia, em peso, reproduz a sua oração oficial, segundo a qual Lula
é vítima de um “processo político”. Mas não vai acontecer no país real o
cataclismo anunciado diariamente, nem “as ruas” vão impedir que a decisão
judicial seja executada. Por acaso Lula e o PT vão conseguir colocar 500.000
pessoas na Avenida Paulista para protestar contra o veredito do TRF-4? Por
acaso no dia seguinte as fábricas, lojas e demais pontos de trabalho estarão
vazios por força de uma greve geral em todo o país? Por acaso Lula vai fazer um
comício monstro no dia 25 ─ ou, como se diz, estará viajando para o
estrangeiro? São, como na velha canção, apenas as “perdidas ilusões” de sempre.
Tudo isso serve apenas para que nossos mais reverenciados liberais,
as reservas morais da sociedade brasileira “civilizada”, tenham a oportunidade
de fingir que acham chato que Lula, caso acabe realmente condenado, não dispute
as eleições de 2018. Que pena, não é mesmo? Seria tão bom ele concorrer e
perder. As eleições seriam tão mais “legítimas”. Tudo ficaria tão bonito. O New York Times acharia tão bacana.
Trata-se de uma combinação de hipocrisia com mania de desrespeitar a lei. Não
cabe a ninguém achar “melhor” ou “pior” que Lula seja ou não seja candidato.
Não é uma questão de opinião. É unicamente uma questão de justiça.
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