"Na política brasileira não há limites para a palhaçada" Foto: arquivo Google |
CIRCO MARAMBAIA
A nomeação da nova ministra do Trabalho promete
entrar para a História Universal da Palhaçada
Por J. R. Guzzo
11/01/2018
O falecido deputado baiano Fernando Santana, um comunista dos tempos
em que havia comunistas de carne e osso no Brasil, costumava divertir os
colegas da Câmara com uma brincadeira sobre a Bahia. “Pense num absurdo,
qualquer absurdo que te passar pela cabeça”, dizia ele. “Na Bahia há
precedente”. Santana foi cassado, exilado durante quinze anos, reeleito após o
fim do regime militar e hoje descansa em paz. Mas as coisas estão ficando de
tal jeito neste país, hoje em dia, que ele poderia dizer algo equivalente em
relação à dobradinha “Governo Temer-Poder Judiciário Brasileiro”. Imagine, no
caso da atuação de ambos, um disparate realmente grande, tamanho XXXX-L – e
pode ter certeza de que já aconteceu, está acontecendo ou vai acontecer a
qualquer momento. A história da deputada Cristiane Brasil, nomeada pelo
presidente da República para o cargo de ministra do Trabalho, está aí para
mostrar que na política brasileira atual não existem limites para a palhaçada.
Há de tudo, neste picadeiro de circo. O presidente Temer fica com o
Ministério do Trabalho vago e nomeia, após devida consideração, um novo
ministro. O ex-presidente José Sarney veta a nomeação, o convite é anulado e o
cargo continua sem titular. Numa segunda tentativa, o presidente nomeia uma
deputada federal, mas um grupo de advogados do Rio de Janeiro não concorda e
entra com uma ação na justiça para barrar a posse – a nova ministra do Trabalho
tinha sido condenada, no passado, em duas causas na justiça trabalhista. Um
juiz de Niterói manda suspender a posse. A coisa toda vai então para os altos
tribunais da República. Descobre-se, nesse meio tempo, que o suplente da
deputada, prestes a sentar na sua cadeira na Câmara, é um indivíduo condenado a
12 anos de cadeia por estupro – além disso, é irmão do ex-governador Anthony
Garotinho, um ex- presidiário que está no momento em liberdade por ter tido a
sorte de cair com o ministro Gilmar Mendes em seu último entrevero judicial. Já
o irmão-suplente ficou uns tempos preso, mas graças às maravilhas do nosso
Direito de Defesa, está não apenas solto; é também um quase-deputado.
O melhor de tudo é a fundamentação filosófica e jurídica, digamos
assim, da decisão contra a ministra nomeada – segundo o juiz, ela não pode ser
ministra do Trabalho em nome do princípio da “moralidade pública”. Aí também já
é avacalhação. Se moralidade estivesse valendo alguma coisa neste país, quanta
gente teria de deixar nos próximos cinco minutos os cargos públicos que ocupa –
incluindo no Poder Judiciário? Eis aí mais uma das grandes páginas da nossa
história: conseguiram montar um episódio em que estão todos do lado ruim.
Escolha o seu preferido — o presidente Temer, o ex-presidente Sarney, a
deputada que foi condenada em ações trabalhistas e deveria ter pedido um cargo
que não fosse o de ministra do Trabalho, seu suplente, o irmão do suplente, o
juiz de Niterói, os advogados do Rio e quem mais tiver tido algum contato com
este pacote de refugo tóxico.
Estamos em pleno circo marambaia.
CIRCO MARIMBONDO
De Milton
Nascimento e Ronaldo Bastos
Com Clementina de
Jesus e Milton Nascimento
Circo Marimbondo
Circo Marambaia
Eu cheguei de longe
Não me "atrapaia"
Vê se não me amola
Larga a minha saia
Circo Marimbondo
Circo Marambaia
Se eu te der um tombo
Tomara que caia
Circo Marimbondo
Circo Marambaia
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