O
BRASIL QUE O BRASIL LARGOU
COLUNA
DE CARLOS BRICKMANN
09/01/2018
Há
territórios, no Rio, em que a Polícia só entra com apoio das Forças Armadas. Há
áreas, em São Paulo, em que o Governo garante que a Polícia entra, mas onde não
entra, não. Em todo o país, há glebas ocupadas pelos movimentos dos
sem-alguma-coisa, com reintegração de posse concedida pela Justiça, em que a
Polícia não entra. E há o caso mais escandaloso, que agora ocorreu em Goiás: a
presidente do Supremo Tribunal Federal, um dos três Poderes da República, tinha
decidido visitar o presídio dos motins. Mas desistiu: segundo sua assessoria,
“por questões de segurança”.
A
ministra Carmen Lúcia, presidente do Supremo e do Conselho Nacional de Justiça,
tem segurança, pode convocar a Polícia Federal, estava com o governador Marconi
Perillo, que tem sob seu comando a Polícia Militar de Goiás. Há a guarda do
presídio. E a ministra não pôde entrar. A 200 km da Capital Federal, onde fica
o comando das Forças Armadas, o presídio não obedece às autoridades: é exercido
por facções do crime organizado, que decidem entre si, pelas armas, quem manda
naquela área que – como nos foi ensinado, e até agora acreditávamos – pertencia
ao Brasil.
O
governador Perillo garantiu que a ministra não conversou com ele a respeito da
visita ao presídio; e, se quisesse ir, “teria absoluta segurança para fazer a
visita”. Sua Excelência só esqueceu de combinar com a equipe da ministra, cuja
versão é outra.
Em
quem o caro leitor prefere acreditar?
Cristiane Brasil: afinal, tomo posse ou não? |
QUEM PODE, PODE
Os
poderes Executivo e Judiciário não conseguiram garantir o acesso da presidente
do Supremo Tribunal Federal a uma prisão goiana onde quem manda é o crime
organizado (qual facção? Isso está sendo decidido com muito sangue).
E
o Poder Executivo acaba de descobrir que não tem poder nem para nomear
ministros sem receber ordens de fora: o juiz federal Costa Couceiro, da 4ª Vara
de Niterói, suspendeu a nomeação da ministra do Trabalho, Cristiane Brasil,
obrigando o Governo a adiar a posse. Adiar ou desistir: o recurso foi rejeitado
pela segunda instância. Mas Temer garantiu que vai até o Supremo para manter a
nomeação. Tudo, menos largar o osso.
A CAUSA DO BEM
Por
que insistir tanto em Cristiane Brasil, que não tem grande presença como
deputada nem se notabilizou por vastos conhecimentos na área do Trabalho?
Simples: Cristiana é filha do deputado Roberto Jefferson, chefão do PTB, que
tem vinte votos na Câmara – votos que podem ser essenciais na votação da
reforma da Previdência.
Como
comentou um assíduo leitor desta coluna, Alex Solomon, a negociação sobre a
reforma da Previdência segue conforme a rotina: “É pagar ou largar”.
DIA D – OU QUASE D
Com
manifestações ou sem elas, sejam favoráveis ou contrárias, e seja qual for o
resultado do julgamento, o ex-presidente Lula não será preso no dia 24 de
janeiro. De acordo com a assessoria de imprensa do TRF-4, onde deverá ser
julgado o recurso de Lula contra a condenação em primeira instância, um
condenado só pode ser preso depois de esgotados todos os recursos no segundo
grau. Mesmo que nenhum juiz peça vista do processo, o que adiará a decisão até
seu voto ser proferido, e Lula seja condenado por unanimidade, há a
possibilidade de embargos de declaração, em que a defesa pede esclarecimentos
sobre a sentença. Se houver prisão, só depois.
VÁLVULA DE ESCAPE
A
notícia é excelente para o PT, que inicialmente ameaçava promover manifestações
em todo o país (alguns dirigentes do partido, incluindo José Dirceu, falavam
até em revolta). Depois reduziu as manifestações a duas, uma em São Paulo,
outra em Porto Alegre, e estava em dificuldades para assegurar que as duas
tivessem público ao mesmo tempo. Transporte, comida e hospedagem, mais o
cachezinho dos voluntários, exigem quantias que hoje as centrais sindicais têm
dificuldades de levantar, sem o imposto sindical e com a dramática redução das
bancadas e cargos públicos do PT.
O INCRÍVEL HUCK
Luciano
Huck, da Globo, apareceu no programa do Fausto Silva, como tantos astros da
Globo. Se Huck será candidato, não se sabe. Ainda não é.
HORA H
O
deputado Jair Bolsonaro, que até agora navegou tranquilo no mar sem candidatos
das eleições presidenciais, está prestes a fazer uma descoberta: a de que não
tem tempo de televisão, seja qual for o partido pelo qual decida sair. Nos
blocos de 30 segundos, terá direito a algo como meio segundo. E nos blocos de
12m30s, terá pouco mais de 12 segundos. Dá para repetir, sincopadamente, por
cinco vezes, a frase “Militar é bom, civil é ruim”.
DESEMBARQUE
Não
dá tempo nem para responder à reportagem sobre o crescimento de seu patrimônio.
O parco horário de que disporá não é tão mau assim.
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