terça-feira, 23 de janeiro de 2018

CRÔNICA: WALCYR CARRASCO

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 ERA ESSENCIAL, MAS SUMIU

Há um mundo de objetos desaparecendo.
Em algum tempo,
o carro vai para a mesma categoria

Por Walcyr Carrasco
Época – 19/12/2017

Não há pior caso de marketing que o dos fabricantes de chapéu. No passado, nenhum sujeito elegante saía de casa sem o seu. Havia vários estilos: coco, palheta, panamá. Mulheres também tinham os seus, chiquérrimos.  Mas o chapéu sumiu do vestuário cotidiano. Entre os vários motivos, há um de profundo preconceito estético. Valorizada era a pele branca, de quem não tomava sol. Só há algumas décadas a cútis morena recebeu o status de bela. O chapéu aposentou-se. É usado ainda, mas por charme. Eu tenho alguns. Só ponho quando quero aparecer. Ainda se usa o boné, esse sim, em dias de sol inclemente. Junto com o chapéu, foi-se a bengala. Não se usava bengala por necessidade, como hoje. Era item essencial à elegância. Havia lindas, com castão de prata. Cadê as bengalas?

Objetos, coisas, desaparecem do cotidiano numa velocidade surpreendente. Alguns ainda resistem a esse processo. O relógio de bolso era chique, mas tornou-se raro. O de pulso sobrevive. Mas a cada vez conheço menos pessoas que usam. Para saber as horas, basta olhar no celular. Relógios digitais, com funções variadas, tomaram conta do mercado. Os grandes fabricantes de relógios tradicionais reagiram. “O relógio é a joia masculina”, já li em vários lugares. Relógios de grife custam fortunas. Eu tenho lindos relógios, que acumulei ao longo da vida. Todos guardados. Vários amigos também já aposentaram os seus. É questão de tempo para sumirem. Junto com as abotoaduras. Outro dia ganhei uma linda, de grife. Uma verdadeira joia. Levei um susto.

– Onde vou usar isso? – surpreendi-me.

O amigo que me ofereceu enumerou várias ocasiões possíveis. Às pressas procurei. No fundo do armário havia uma camisa, na qual evetualmente seria possível botar as ditas-cujas. Educadamente, garanti que usaria sempre. Onde, quando? Quem me deu o presente só usa bermuda e tênis. Boto smoking e gravata-borboleta ainda, muito eventualmente. Mas dá uma preguiça! É traje de museu.

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Outro item desaparece: lenço de pano. Como sou alérgico, do tipo capaz de espirrar 40 vezes seguidas, sempre tenho um. É cada vez mais difícil encontrar. Usa-se lenço de papel. Existir, existem, mas estão indo rapidamente para a prateleira do desuso. Junto com aparelhos de CD, vencidos pelo streaming. Dá uma tristeza quando me lembro do videocassete. De símbolo da modernidade, transformou-se num tijolo. Para não falar do super-8, que contagiou toda uma geração. Também sumiu, pelo menos do dia a dia, assim como máquinas fotográficas são cada vez mais restritas a profissionais. Em meus áureos tempos fiz até curso de revelação de fotografia. Mergulhava o filme em uma mistureba de produtos, no escuro total. Aos poucos a imagem ia aparecendo. Era impressa em papel, com os contornos de um rosto retomando a vida. Hoje eu faço tchan no celular e, tchun, olho a foto. Se não saiu boa, outra. Máquina fotográfica existe, mas restrita somente a apaixonados por elas ou profissionais.

Sapatos, ninguém vai dizer que não há. Só que a maioria das pessoas, homens e mulheres, no cotidiano, no metrô, no trabalho, usa tênis. Cada vez mais o sapato fica restrito a uma função social. Surgiu até o sapatênis, uma junção dos dois que vale para qualquer ocasião. Mulheres ainda amam sapatos de saltos finíssimos, onde se equilibram harmoniosamente. Hum...até há homens que gostam de ser pisados por esses saltos! A galera masculina optou por tênis. Eu, como todos os meus amigos, odeio sapatos de sola de couro. Escorregam. Muitos de meus amigos já usam somente chinelos e bermudas. Mais que isso: as empresas aceitam com tranquilidade esse traje no trabalho.

Há um mundo inteiro de objetos desaparecendo. Farei uma previsão. Em algum tempo, o carro vai para a mesma categoria. Já conheço várias pessoas (pioneiras) que, diante da praticidade dos aplicativos, venderam seus próprios veículos. É mais barato usar, não exigem manutenção nem pagamento de imposto. A próxima geração, em ritmo veloz, abdicará de carros pelas bicicletas, meios de transporte coletivos e aplicativos.

Só há um detalhe. Qualquer um desses objetos ainda tem função, como charme. Garota ou rapaz de chapéu, tênis, jeans e camiseta ficam mais interessantes. Uma gravata-borboleta num traje informal também. Já que está na hora de pensar nisso, todos são ótimos presentes. Inclusive de Natal. Fica a dica. Ah, sim. Já que toquei no assunto, se Papai Noel me der um carro, aceito humildemente.

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