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O
ANO DA ESPERANÇA
O
brasileiro espera um messias, alguém que salve
o
país. Quebramos a cara várias vezes com isso
Por
Walcyr Carrasco
Época
– 26/12/2017 - 08h00
O
ano foi difícil. Avalio pelo número de amigos desempregados. E pedidos de
empréstimos. Um atrás do outro.
Nunca
gostei de botar dinheiro nas relações de amizade. Como afirmou Shakespeare,
perdem-se o dinheiro e o amigo. Nos primeiros pedidos, eu ajudava, com a
consciência de que era uma doação. A situação foi piorando. Os argumentos
também. No início era para pagar a escola do filho. Depois vieram as mães e
avós doentes. Lamentavelmente, aprendi a não ser generoso. Ajudava um rapaz,
que não conheço pessoalmente. Mas que sofreu um acidente e não tinha como pagar
a fisioterapia. Comecei com a físio. Vieram sucessivas internações, remédios. A
situação piorando, eu já estava encomendando missa de sétimo dia. Falei com um
amigo médico, no Rio de Janeiro. Ele aceitou tratar o caso gratuitamente.
Surpresa! O doente não aparecia para a consulta. Até que o botei contra a
parede. Ou se consultava ou não ajudava mais.
Cheio
de saúde, foi ao consultório. Pediu uma
receita de suplementos para ficar com o corpo atlético. Nunca conheci o
sujeito, repito. Eu me senti um idiota por ter caído na história. Só que esse
rapaz havia perdido o emprego após o suposto acidente. Foi por isso que me
deixei enganar. Mas, ao perder salário, muita gente perde também a vergonha.
Pior ainda. A violência aumenta. As pessoas buscam vagas nos mercados em expansão.
Se a indústria automobilística vai bem, é lá que vão trabalhar. O mercado em
expansão nesse momento é o da bandidagem. Surgem mais candidatos a roubar,
matar, traficar. E quem trabalha e não recebe? Tomo como exemplo o Rio de
Janeiro. Os funcionários públicos mal recebem seus salários. Como viver?
“Papai,
o que preciso fazer para ter R$ 50 milhões em malas?”
Fraude,
fraude. Como não considerar a fraude, o uso da boa-fé alheia absolutamente
normal, depois de um ano em que as máscaras de nossos políticos caíram tão
radicalmente? Temos presidente suspeito. Ministros. Políticos de todos os
escalões. Respeito muito o Supremo Tribunal Federal (STF). Mas às vezes é
difícil entender certas decisões, como deixar nas mãos dos lobos o cuidado do
galinheiro – caso de Aécio Neves. Se Aécio é culpado ou não, não tenho o direito
de afirmar. Essa questão fica para a Justiça. Mas continuar, depois da
divulgação daquele telefonema? Imagino que para os pais ande muito difícil
explicar aos filhos que é preciso ser honesto. E se a criança perguntar:
–
Papai, o que preciso fazer para ter R$ 50 milhões em malas?
Também,
juro, fiquei com uma sensação muito ruim por dona Marisa ser suspeita de tanta
coisa, no depoimento do viúvo Lula. Não a conheci. Mas desejo que descanse em
paz.
Podemos
esperar por um futuro melhor ou o que nos aguarda é mais descrédito?
Novos
candidatos vão surgir. Serão novos? Ou os antigos? Ou novos com cabeça de
velhos? Para a Presidência, quem? A crise está melhorando? Está. Mas, depois de
tudo, o brasileiro espera um messias. Alguém que, de alguma maneira maravilhosa
e inconfundível, salve o país. Quebramos a cara várias vezes por isso, no
passado. Tivemos Jânio Quadros. Ia passar a vassoura no país. E outros, outros.
Acabou vindo Collor. Eu sofri naquela época! Faltou grana! Tínhamos tanta
confiança, que ele pôde até confiscar nosso dinheiro nos bancos. Para terminar
em impeachment. E agora, vai aparecer um novo messias? Linha dura? Mais
liberal? Vamos ter de viver tudo isso outra vez, com planos mirabolantes?
Todos
pedem que a gente tenha uma nova consciência para votar. Como? Se só sabemos
ser enganados? Mais ainda, num mundo em que as fake news são divulgadas pela
internet, em que muitos sites servem a qualquer mentira. Digo por mim. Já
contaram cada história a meu respeito que nem sei o que dizer. Já inventaram
histórias de amor, tramas nas novelas que escrevo. Pior. Depois todo mundo me
pergunta por que isso ou aquilo não aconteceu na novela. Se mudei a trama.
Respondo:
–
Nunca foi para acontecer. Era mentira da internet.
Duvidam.
Acham que estou mentindo.
Imaginem
o que vai ser isso numa campanha política. Aconselho a ficarem muito de olho em
quem dá a notícia. Revistas, jornais, com equipe de repórteres, verificam as
notícias. Os outros inventam. Cuidado para não cair nessas notícias falsas, que
destroem a vida de uma pessoa. Ou de um candidato. Se eu fui alvo de notícias
falsas, o que vai se passar com os candidatos?
***
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Há mulheres que fingem, por uma vida inteira, ter o orgasmo que jamais tiveram. São as mais generosas: elas nos dão a ilusão de dever cumprido. Por Orlando Silveira em "Rapidíssimas". Leia mais no blog.
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