Rio: nas mãos de elites politicamente retardadas Foto: Arquivo Google |
SONÍFERA ILHA
Os piratas do Caribe que assaltaram o poder público
no Rio de Janeiro só chegaram lá porque a elite fluminense
se omitiu de forma inequívoca e deliberada
Por Murillo de Aragão
http://noblat.oglobo.globo.com/artigos
30/11/2017 - 01h25
Nasci perto do mar, em uma encosta de pedra verde que se debruça
sobre a praia mais famosa do mundo. Em um continente que é, na verdade, um
conjunto virtual de ilhas isoladas do mundo. O Brasil/Brasis navega em um mar
de contradições. Somos um arquipélago de vaidades e peculiaridades. Somos um
povo com alma de ilhéu. Mas somos muitas ilhas.
Nem latino-americano nem africano. Tampouco ibérico. Algo que, em
existindo, não existe, assim como o amor platônico que existe sem existir. O
Brasil, tal qual a Ilha Desconhecida de José Saramago, navega em busca de si
mesmo, cercado de vastas extensões que não vemos nem percebemos. Rodeado por um
oceano de nostalgia do que pensamos ser e que nunca fomos.
O desapego e o desinteresse conseguiram fazer do Rio de Janeiro uma
espécie de região de piratas do Caribe, onde governadores et caterva se esbaldaram com as verbas públicas sob o olhar
complacente de uma elite que se preocupava mais em saber se ia dar praia do que
em tomar o poder dos bandidos.
Os piratas do Caribe que assaltaram o poder público no Rio de
Janeiro só chegaram lá porque a elite fluminense se omitiu de forma inequívoca
e deliberada. Uma omissão que oscila entre ser libertária, esquerdista,
infantilóide ou somente clientelista. Aquele sentimento que permitia furar
filas no velho aeroporto do Galeão ou ser resgatado antes de passar pela
Alfândega para não ser incomodado com burocracias. Ou ainda parar em fila dupla
sem cerimônia.
Apenas elites politicamente retardadas podem desperdiçar as oportunidades
propiciadas por uma Olimpíada e uma Copa do Mundo. E permitir que surtos de
violência provoquem medo e desespero em uma localidade que deveria viver de sua
incomparável beleza. As elites não gostam de verdade do Rio de Janeiro. Gostam
da alegoria de um Rio que não existe mais. E que precisa ser reconstruído para
realizar o potencial adormecido da cidade mais linda do mundo.
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