Nem ele sabia por que
corria tanto, desassossego sem fim, impaciência de anos, de uma vida inteira.
Anos e anos de terapia
– sejamos francos – não lhe serviram para nada, como quase sempre acontece com
todo mundo. Gastou fortuna, as frustrações ganharam corpo, medos antigos foram substituídos por outros mais vigorosos.
Na essência, Alfredo continua o
mesmo: inseguro, ansioso, certo de que o mundo acabará amanhã, ou a qualquer
momento, como sempre dizia sua mãe. Obsessão: como lidar com amanhã, se amanhã (ou a qualquer momento) não haverá
mais mundo. Daí, a necessidade de
querer fazer já, para ontem, tudo, não importa o quê.
Anos e anos de
sofrimento e despesas. À toa.
Um dia, muito tempo
depois, de bolsa cheia, a terapeuta abriu o jogo:
-- Alfredo: se você
acha que o mundo vai acabar a qualquer momento – e não há quem tire essa
bobagem de sua cabeça --, por que correr tanto, para que fazer isso ou aquilo,
se amanhã aquilo e isso não terão sentido algum, já que não haverá mais mundo?
Caiu a ficha.
-- Por que a senhora
levou tanto tempo para me dizer o óbvio?
-- Você não estava
preparado para ouvir a verdade.
Alfredo pensou em
muitas coisas: exigir o dinheiro gasto com a terapeuta de volta, pequena fortuna, matar a doutora e família, exumar o corpo da mãe e cremar os ossos...
Achou melhor continuar
correndo, sempre apressado, sem saber para onde nem por quê. Só que agora sem ter
que pagar a conta da terapeuta. Ao menos, um fardo a menos.(02/12/2004 - ATUALIZADO EM 02/12/2017)
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Amar é... Amar é tudo. Até fazer comprinha imaginária no supermercado. (OS)
https://orlandosilveira1956.blogspot.com.br/2017/11/quase-historias-angela-antonio.html#comment-form
Parabéns pela excelente crônica, Orlando Silveira! As pessoas viciadas em terapia não mudam nunca a sua essência. Mudam, somente, "da boca pra fora",
ResponderExcluirUm abraço.
Penso também, amiga, que é por aí. Beijo.
ExcluirSempre excelente!! Adoro tudo :)
ResponderExcluirObrigado. Você é generosa.
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