Foto: Kelsen Fernandes/Ag. Istoé |
“EFEITO
TOGA” TORNOU-SE
A
PRINCIPAL VARIÁVEL DE 2018
A
situação penal do candidato do PT converteu
o
Judiciário num protagonista da disputa sucessória.
O
“efeito toga” injeta no processo um quê de imponderável
Por
Josias de Souza
03/12/2017
| 05:29
No
momento, não há nada mais equivocado na análise da conjuntura eleitoral
brasileira do que ter certeza. A leitura fria dos dados expostos na mais
recente pesquisa do Datafolha induz à falsa conclusão de que a sucessão
presidencial vai se consolidando como uma batalha entre o pseudo-esquerdista
Lula e o ultra-direitista Jair Bolsonaro. Mas a construção do cenário de 2018
já não depende apenas do eleitor. A situação penal do candidato do PT converteu
o Judiciário num protagonista da disputa sucessória. O “efeito toga” injeta no
processo um quê de imponderável.
Hoje,
Lula continua na liderança. Oscila entre 34% e 37%, dependendo do cenário.
Bolsonaro isolou-se na vice-liderança, obtendo entre 17% e 19% das intenções de
voto. O problema é que não são negligenciáveis as chances de Lula, já condenado
a nove anos e meio de cadeia, se tornar um ficha suja. Retirando-se o pajé
petista do páreo, a taxa de entrevistados que preferem votar em branco ou nulo
praticamente dobra, chegando a 30%. Abre-se uma disputa pelo espólio eleitoral
de Lula. Candidatos que têm a aparência de cartas fora do baralho entrariam no
jogo.
Marina
Silva belisca uma fatia do eleitorado lulista automaticamente. Com Lula na
briga, a candidata da Rede chega a amargar 9%. Sem o ex-correligionário, Marina
volta para o patamar dos dois dígitos. No seu melhor cenário, ela amealha 16%,
ficando a apenas cinco pontos percentuais de Bolsonaro, com 21%. A ausência de
Lula seria revigorante também para Ciro Gomes, que migraria dos 6% para 12%,
assumindo a terceira colocação, à frente de Geraldo Alckmin (9%). O petista
Fernando Haddad, potencial substituto de Lula, amealharia escassos 3%.
O
primeiro estágio da ruína penal de Lula é o Tribunal Regional Federal da 4ª
Região, que deve confirmar entre o final de março e o início de maio a
condenação imposta por Sergio Moro no caso do Tríplex do Guarujá. Com isso,
Lula viraria um ficha-suja. Pior: se o Supremo Tribunal Federal não modificar a
regra que permite a prisão de condenados na segunda instância, o juiz da Lava
Jato estará autorizado a enviar o candidato do PT para o xadrez.
Em
reunião com a cúpula do PSB, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffman (PR),
disse que seu partido não analisa alternativas. Levará a candidatura de Lula às
últimas consequências. Recorrerá ao Supremo Tribunal Federal contra o eventual
enquadramento de Lula na Lei da Ficha Limpa e contra eventual ordem de prisão
emitida em Curitiba. O petismo só indicará um substituto na hipótese de o
Tribunal Superior Eleitoral, provocado por algum rival de Lula, cassar-lhe as
pretensões políticas.
Ou
seja: os destinos da sucessão de 2018 passam pelo TRF-4, pela 13ª Vara de
Curitiba, pelo STF e pelo TSE. Considerando-se o caráter lotérico que permeia
as decisões judiciais no Brasil, a única previsão segura que se pode fazer
sobre 2018 é que o “efeito toga” torna a disputa, por ora, imprevisível.
***
Lula, por J. Bosco |
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