Alckmin: são enormes os seus desafios |
SOB
FALSA PACIFICAÇÃO,
PSDB
VIVE SUA PIOR CRISE
No momento,
é muito difícil distinguir o partido fundado
por
Franco Montoro, Mario Covas e Fernando Henrique
Cardoso
de uma legenda gelatinosa do chamado centrão
Por Josias
de Souza
https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/
09/12/2017
04:51
Dizer
que o PSDB perdeu a aura que o tornava diferente é pouco para traduzir sua
crise, a pior que o partido já enfrentou desde o seu surgimento, há três
décadas. Levado no embrulho da onda de descrédito que engolfou a política, o
tucanato tornou-se um aglomerado caótico. Vão abaixo meia dúzia de evidências:
1)
O PSDB declara-se pacificado sob a presidência de Geraldo Alckmin, inaugurada
na convenção nacional deste sábado. Mas ainda convive nos subterrâneos com uma
guerra fratricida entre as facções de Tasso Jereissati e de Marconi Pirillo
(pode me chamar de centro-avante de Aécio Neves).
2)
Alardeia que desembarcou do governo de Michel Temer, mas tolera a permanência
de dois filiados na Esplanada: Aloysio Nunes (Itamaraty) e Luislinda Valois
(Direitos Humanos).
3)
O PSDB é a favor das prévias, previstas no estatuto do partido. Mas finge que
Alckmin é presidenciável único, escanteando o rival Arthur Virgílio Neto,
prefeito tucano de Manaus.
4)
Defende a reforma da Previdência, mas não consegue entregar nem metade dos
votos de sua bancada na Câmara.
5)
Acusa Lula de buscar a re-reeleição para “voltar à cena do crime”, mas guarda
um imponente silêncio sobre o pedido de inquérito criminal que corre contra
Alckmin no Superior Tribunal de Justiça.
6)
Enrola-se na bandeira da ética, mas acoberta Aécio Neves, transformando a
corrosão do achacador de Joesley Batista num processo de enferrujamento
partidário.
Num
intervalo de três anos, o PSDB desceu da antessala do poder para o purgatório.
Em 2014, Aécio tivera uma derrota com fragrância de vitória, pois amealhara
notáveis 51 milhões de votos. Parecia fadado a eleger-se presidente em 2018.
Entretanto, tornou-se um colecionador de processos criminais — já soma nove.
A
corrosão de Aécio, o prontuário de José Serra, a inconsistência de João Doria e
a radioatividade de Michel Temer empurraram o PSDB para o colo de Alckmin. E o
eleitorado, cujos humores são prospectados pelos institutos de pesquisa, mantém
Alckmin na frigideira onde ardem os sub-Bolsonaros, candidatos com índices de
intenção de voto abaixo dos dois dígitos.
No
momento, é muito difícil distinguir o partido fundado por Franco Montoro, Mario
Covas e Fernando Henrique Cardoso de uma legenda gelatinosa do chamado centrão.
E a dificuldade para identificar o DNA daquela legenda nascida em 1988 de uma
dissidência do PMDB tende a aumentar.
A
pretexto de firmar-se como uma alternativa presidencial de “centro”, Alckmin
planeja associar-se ao rebotalho da política. Para aumentar o seu tempo de
propaganda na televisão, trabalha com a perspectiva de empurrar para dentro de
sua coligação legendas como PP, PTB, PR, PSD e até o PMDB.
Alckmin
negociava à sombra. Mas o ministro Henrique Meirelles (Fazenda), que também
sonha com a Presidência da República, entrou no jogo. Ele disputa com o
grão-tucano o apoio dos mesmos aliados tóxicos. Impossível manter fora do
alcance dos repórteres um balé de elefantes como esse.
PAÍS
TEM 290 MIL PRESOS SEM SENTENÇA
E
SUPREMO COGITA LIBERAR LARÁPIOS VIPs
O
Ministério da Justiça divulgou dados atualizados sobre a população carcerária.
Um detalhe chama especial atenção: há no Brasil cerca de 290 mil presos sem
julgamento. Isso corresponde a 40% do total de encarcerados: 726 mil pessoas. É
contra esse pano de fundo que o Supremo Tribunal Federal analisa a hipótese de
abrir as portas das celas para os endinheirados e poderosos condenados duas
vezes.
Repetindo:
num país em que 290 mil cidadãos pobres mofam atrás das grades sem julgamento,
a Suprema Corte cogita rever a regra que prevê a prisão de larápios VIPs
condenados um par de vezes, na primeira e na segunda instância.
Para
a casta superior, o direito de recorrer em liberdade. Se possível, até a prescrição
dos crimes. Às favas com a dupla condenação! São inocentes até prova em
contrário. Quanto aos miseráveis, são culpados até prova em contrário. Se
possível, vão em cana como prova em contrário. Assim, não é que o crime não
compensa. É que no Brasil, quando compensa, ele tem outro nome. Chama-se
impunidade.
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