SE
LHE DER NA TELHA
Apenas
os judeus ortodoxos estariam interessados na opção
adotada
por Trump. Os mais ao centro e à esquerda
prefeririam
uma solução negociada
Por
Zuenir Ventura
O
Globo – 09/12/2017
Desta
vez não se trata apenas de uma decisão polêmica e provocativa como têm sido quase
todas as de Donald Trump. A de agora, reconhecendo Jerusalém como a capital de
Israel, desafiando importantes aliados internacionais, inclusive o Papa
Francisco, contém um potencial explosivo capaz de inflamar o Oriente Médio e
de, como disse o líder do Hamas, abrir as “portas do inferno”, ao destruir o
sonho dos “dois estados” (os protestos violentos já começaram). Quais foram os
motivos que o levaram a abrir mão do papel dos EUA na mediação do conflito
entre israelenses e palestinos, pondo fim às negociações de paz? São questões
que os analistas estão procurando entender.
Segundo
J.J. Goldberg, editor da “Forward”,
revista voltada para o público judeu, Trump foi movido por pressão da direita
evangélica republicana, que é hoje uma sólida base de apoio ao partido. Com ele
concorda Kenneth Wald, professor de Ciência Política da Universidade da
Flórida. Eles acham que a influência dos evangélicos foi mais determinante do
que a dos judeus, que seriam em menor número e não teriam uma boa interlocução
com Trump.
Além
disso, apenas os judeus ortodoxos estariam interessados na opção adotada por
Trump. Os mais ao centro e à esquerda prefeririam uma solução negociada. “A
decisão não tem a ver com a comunidade judaica, que é majoritariamente
liberal”, afirma Goldberg. “Os evangélicos estão em êxtase”, noticiou a rede de
Radiodifusão Cristã. Já Michael Barnett, professor de Assuntos Internacionais
da Universidade George Washington, acha difícil encontrar uma explicação
razoável. Para ele, Trump “faz o que lhe dá na cabeça” — ou na telha. “A sua
política é dirigida por impulso”.
A
hipótese do impulso ou, digamos, do surto, remete ao que aconteceu na campanha
eleitoral, quando um estudo da Universidade de Oxford, na Inglaterra, fez o
perfil dos candidatos para estabelecer seus “traços psicopáticos”, os quais, no
caso de Trump, foram comparados aos de Adolf Hitler e de Idi Amin Dada,
ex-ditador de Uganda. O responsável pelo estudo, o professor Kevin Dutton,
psicólogo especialista em análises comportamentais, acabou amenizando um pouco
seu diagnóstico, admitindo que a psicopatia tem “um lado bom” e que nem todos
seriam apenas perversos e narcisistas. “Nem todo psicopata é criminoso. Nem
todos são malucos ou maus”, ele procura tranquilizar.
Mesmo
assim, fiquei tão preocupado que, em pesadelo, um deles tinha acesso ao botão
para explodir o mundo — se lhe desse na telha.
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