Heley sacrificou a vida para salvar crianças Foto; Arquivo Google |
QUAL
É A MULHER DO ANO?
Ao
pesquisar no Google sobre a mulher do ano de 2017,
vejo
tantas referências à cantora Anitta, sintoma de que
o
torneado do corpo se impõe ao torneado da alma
Por
Percival Puggina
01/12/2017
Eu
sei que os títulos de mulher do ano costumam ser concedidos para celebridades
do meio artístico, dos palcos, das câmeras e das passarelas. Isso tem muito a
ver com a superficialidade das relações sociais, vulgarmente incapazes de
avançar um milímetro sequer sobre as aparências. Ao afirmá-lo, não estou
emitindo juízo de valor sobre quem quer que seja.
Já
quando olhamos ao nosso redor, provavelmente todos temos a quem outorgar esse
destaque. Num círculo mais estreito de relações, onde conhecimentos e
sentimentos são mais profundos, quase sempre há alguém que é, a um só tempo,
rainha, deusa, leoa, obreira infatigável de incontáveis tarefas, pessoa de
vontades contidas e interesses postergados, primeira e espontânea oferta no
altar dos sacrifícios. Meu louvor, meu apaixonado louvor à essa multidão
anônima de mulheres do ano!
Ao
pesquisar no Google sobre a mulher do ano de 2017, vejo tantas referências à
cantora Anitta, que não posso deixar de dizer: tal escolha constrange a nação.
É sintoma de que o torneado do corpo se impõe ao torneado da alma, e que as
formas obscurecem a beleza e a nobreza das virtudes.
Neste
ano de 2017, ninguém se ergueu acima de Heley de Abreu Silva Batista! Foi ela
que entrou em luta corporal com um louco incendiário. Foi ela que retirou 25
crianças de uma creche em chamas, salvando-as de morrerem no trágico
acontecimento do dia 5 de outubro em Janaúba MG. Horas depois, não resistindo
às queimaduras, Heley morreu.
Em
João 15:13, numa alusão ao que viria a acontecer consigo mesmo, Jesus diz:
"Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus
amigos". Amor supremo, cuja imposição vem do coração e chega à superação
dos mais naturais instintos humanos. Quando enunciou o mandamento do amor,
Jesus disse que devemos amar o próximo "como" (tanto quanto) a nós
mesmos. Ele não nos exige o que Ele fez. Ele não pediu a Heley o que Heley
realizou. Ela agiu voluntariamente. Amor ao próximo além do amor próprio é
altruísmo, virtude das almas mais nobres, dos santos, dos heróis, dos que se
erguem à reverência de todos nos altares, nos monumentos e nas páginas da
História.
Por
isso, quando a agenda de 2017 começa a buscar na prateleira seu lugar ao lado
das precedentes, eu me uno aos que escolhem Heley de Abreu Silva Batista e
digo: “Professora, este ano não tem para mais ninguém! Dê um abraço em Jesus
por mim.”
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Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas
de jornais e sites no país. Autor de Crônicas
contra o totalitarismo; Cuba, a
tragédia da utopia; Pombas e Gaviões;
A tomada do Brasil. integrante do grupo
Pensar+.
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